sexta-feira, 30 de maio de 2014

- Polícia canadense





Sempre ouvi em noticiários sobre a violência no Brasil, mas tenho que confessar que em 32 anos morando em terras brasileiras, nunca passei por nenhum tipo de violência, nem mesmo assalto de celular na rua ou no farol. Por muita sorte, este é o tipo de experiência que Graças a Deus e por muita luz nunca vivi.

Por outro lado, ironicamente tive algumas más experiências com a polícia no Brasil. Em 2000, fui parada duas vezes por policiais enquanto dirigia. Em ambas, apontaram arma para mim. As situações foram parecidas e eu estava dirigindo no trânsito de São Paulo normalmente, em horário comercial indo para a faculdade. Meu carro era um Corsa sedam, novo, prata, simples, típico de estudante universitário. Não tinha nenhum problema, não estava batido, não tinha insulfim escuro. Eu não havia infringido nenhuma lei trânsito ou dado qualquer razão para que me parassem. Nas duas ocasiões, os policiais haviam parado outros carros e eu "entrei no bolo". Sem fazer absolutamente nada de errado. Que quisessem que eu parasse o carro, ok, sem problemas, é o trabalho deles averiguar se as coisas estão certas. Mas apontar arma? Para uma menina de 19 anos? Em pleno horário comercial? No meio do tráfego intenso de São Paulo? Gritarem e desrespeitarem a toa? Não! Isso não! Foi algo completamente traumatizante. Ou seja, problema não foi me pararem, mas sim o procedimento tomado por eles. Um absurdo.

Além disso, por algumas outras experiências pessoais e histórias de amigos que também sofreram algo do tipo gratuitamente, acabei perdendo a crença na polícia brasileira. Não me sentia protegida de maneira nenhuma e sempre ficava com a pulga atrás da orelha quando estava próxima de algum policial. Aquela história "quem não deve não teme" literalmente não cabia nestas situações. Eu temia sem dever nada! No fim das contas, perdi a confiança naqueles que deveriam me proteger. Sem falar no excesso de autoridade, corrupção, arrogância, blá, blá, blá...

Também já tive alguns péssimos casos com a equipe da CET (segurança de trânsito), aliás, acho que com esta todo mundo já teve (rssssss).

Aí chegando aqui no Canadá, a impressão e reação que eu tinha por estes profissionais continuou. Era só eu ver um policial que eu já ficava rígida, branca, congelada. Sendo imigrante então, nem se fala.

Até que eu comecei a trabalhar na cafeteria. Por coincidência há uma delegacia bem na frente, então a presença de policiais por lá é constante. Lembro que na primeira vez que eles foram lá, estavam em um grupo de 5 pessoas. Eu quis preparar a bebida deles correndo, perfeitamente, e torci para que fossem embora de lá o quanto antes, pois eu estava meio tensa. Neste dia, o primeiro policial para o qual servi o café logo me perguntou "How are you doing today?" (Como você está hoje?). Tentei ser educada e breve respondendo "I am good, thank you for asking" (Eu estou bem, obrigada por perguntar). Assim que ele me ouviu falar, logo reconheceu meu forte sotaque e já perguntou de onde eu era. Mal terminei de falar Brasil e ele já falou "Hola, cómo estás?" com sotaque espanhol. Aí continuei a tentar ser educada e perguntei se ele falava espanhol. Com um enorme sorriso no rosto ele respondeu "Not at all. It is the only thing that I know. It was my way to say welcome to Canada" (De maneira nenhuma. É a única coisa que eu sei. Foi a minha maneira de dizer ‘bem vinda ao Canadá’”)

Não preciso nem mencionar o choque né?! No dia seguinte este mesmo policial, Tim, voltou com outros colegas para me apresentar, pois como eles vão para o Brasil para ver a Copa, ele queria que conversassem comigo. Daí em diante só risada. Até hoje são uma graça comigo. Vivem contado piadas, me ajudam com o inglês, e tudo mais. Tem um em especial eu adoro, e chama-se Mike. Sempre está de bom humor e vai todos os dias lá. Semana passada mesmo ele estava "zoando" comigo. Ele tem aquela mania de dizer que basta lavar o carro que chove. Como a semana toda foi de sol, na sexta-feira quando ele foi comprar café pedi um "favor" a ele. Eu pedi que não lavasse o carro pois eu teria o final de semana livre e portanto queria aproveitar o sol. Ele entrou na brincadeira e já foi logo falando que não jogaria nenhuma gota de água no carro pois também pretendia curtir os dias "offs" e não queria arriscar... Estas bobagens! O fato é eles são um doce! A cada dia que lido com eles, mais eu os admiro. Como canadenses, clientes, profissionais.

Mas a experiência não fica aí. Calma lá! Eu não sou perfeita e também faço besteira, ainda mais aqui. O problema é que o policial canadense já percebeu isso (kkkkk). Brincadeiras a parte, já fui parada pela polícia duas vezes aqui enquanto dirigia. Coincidência? Não! Em ambas eu tive "culpa no cartório". Eu estava errada mesmo e  me pararam por isso. Então vamos aos "causos".

A minha primeira experiência aconteceu um dia em que eu estava voltando do trabalho a noite. Eu só vi pelo retrovisor as luzes coloridas piscando do carro de trás e aquela sirene notável "uol-uol-uol-uol". Encostei o carro e fiquei esperando o policial me abordar. Já fui logo pegando o documento e tudo mais. Ele veio até a minha janela, não pediu meus documentos, apenas perguntou o por quê de eu estar com os faróis do carro apagado durante a noite. Assustada eu respondi "Euuuuuu???? Luz apagada??????". E não é que estava mesmo! Respondi que eu não havia percebido e que tinha sido sem querer. Na verdade, fiquei assustada com a minha própria irresponsabilidade. Pedi um bilhão de desculpas. Aí ele respondeu sorrindo (juro, sorrindo) "senhora, porque não usa o comando de faróis automático do carro? Assim não esquece mais!". E ele estava certo. Na verdade sempre deixo o comando do carro para acender os faróis automaticamente conforme a luz do dia. Mas uma semana antes disso, meu amado cunhado veio nos visitar e desligou o tal. Como as ruas são bem iluminadas, eu acabei nem me dando conta de que os faróis estavam apagados. No fim das contas até fiz uma brincadeira dizendo que pelo menos o carro era branco e facilitava que os outros me vissem. Ele riu, me liberou dizendo para eu ser cuidadosa, voltar para casa em segurança depois do meu dia de trabalho. Respirei fundo e dei um suspiro de alívio. Nada de multa. Mas foi justo porque afinal só tive meia culpa. Tenho que admitir que parte do problema foi o meu cunhado (kkkk).

E a outra história Priscila???? Totalmente minha culpa desta vez. Mas nesta passei vergonha. Era um dia típico e eu estava indo ao trabalho, suuuuper atrasada. Nesta hora você deve estar pensando que eu estava correndo. Nada disso! Na verdade o relógio do carro estava errado já fazia um tempo, mas eu nunca o arrumava por pura preguiça. Aí eu peguei meu celular para conferir a hora quando no exato momento um policial estava passando do meu lado de moto. Ele achou que eu estava mandando mensagem e aí veio novamente as luzes e o "uol-uol-uol-uol" irritante da sirene. Encostei o carro e lá veio o policial. A conversa foi mais ou menos assim:

Policial: Você estava usando o celular?
Priscila: Não.
Policial: Mas eu acabei de ver você com o seu aparelho!!!
Priscila: Ah! Verdade! Eu estava conferindo o horário, porque o relógio do carro está errado e eu estou super atrasada para o trabalho.
Policial: Quem em sã consciência mantém o relógio do carro errado?
Priscila: Eu! Desculpa, mas todo dia quando chego em casa estou tão cansada que tenho preguiça de arrumar e deixo para o dia seguinte. Aí no dia seguinte saio correndo e por falta de tempo acabo não arrumando, blá blá blá – continuei com minha explicação esfarrapada, verdadeira, mas esfarrapada.

Aí o policial olhou para o relógio e viu que eu não estava mentindo, e continuou a fazer perguntas:

Policial: Você me parece familiar. O que eu sempre peço?
Priscila: Hã??? – eu não havia entendido o que ele ele queria dizer com a tal pergunta.
Policial: O que eu sempre peço??? – ele repetiu

Finalmente entendi que ele estava se referindo à cafeteria e que ele era um cliente. O diálogo continuou:

Priscila: Latte? Americano? Long Americano? Pike? – respondi com cara de dó e dúvida ao mesmo tempo que tentava advinha o que ele regularmente comprava.
Policial: Não!!!! Você nem ao menos sabe o que eu peço!
Priscila: Desculpa! Mas é difícil de te reconhecer com o óculos de sol e o capacete. Desculpa!!! De verdade.
Policial: Ok. Você tem idéia de quanto custa a multa?
Priscila: Não, nenhuma idéia. Quanto?
Policial: Custa CAD$ BUZILHÃO,00! Quantos "Shifts" (escala de trabalho) você precisa trabalhar para pagar esta multa?
Priscila: Nossa! Custa isso tudo? - eu fiz as contas e continuei respondendo - Três shifts completos, no turno da noite, fechando a loja! É muito!!!
Policial: Está vendo como é caro fazer coisa errada? E blá blá blá - leia isso como um enorme sermão – Desta vez deixarei passar. Mas que isso não se repita!!!
Priscila: Não nunca mais! Arrumarei o relógio hoje! Prometo!
Policial: Ok! Agora vá com calma.

Eu já estava do lado da loja, há um quarteirão de distância. Conclusão, cheguei mais atrasada, com o ouvido doendo pelo sermão e super envergonhada.

Esta “brincadeira” me custou sermão todos os dias daquela semana. Todos os dias o mesmo policial foi lá e repetiu a mesma "bronca". Foi uma semana de vergonha. Confesso que aprendi a lição!

No fim das contas, já tive algumas experiências com a polícia daqui (rsssss). Nenhuma me deixou trauma, pelo contrário, me deixou mais segura em relação ao trabalho destes profissionais.



Acredite, tudo tem uma explicação. Conversando bastante com eles todos os dias e fazendo algumas pesquisas, entendi este comportamento coerente. Primeiramente, eles tem alto salários por aqui. Alto mesmo! Além disso, o procedimento e tipo de trabalho é diferente. A função do policial é manter a ordem e isso significa prevenir. A maior parte do tempo eles usam para educar e orientar a população, não prender ou resolver casos.  Faz parte da cultura local, os policiais conhecerem a comunidade. E eles se esforçam para isso. Em geral, sabem o nome das pessoas que vivem na área de atuação, eles conversam com todos, interagem, são simpáticos e transmitem confiança. Eles fazem parte da comunidade que trabalham e isso faz toda a diferença. Eles respeitam as pessoas e as pessoas os respeitam. E eu vejo isso todos os dias. Não é algo que simplesmente me falaram, mas sou testemunha deste comportamento incrível. Eles são demais! Não há preconceito. Todos me conhecem e sabem meu nome. Não apenas porque trabalho próximo a eles. Quando estou andando pelas ruas sem uniforme, continuam me reconhecendo e conversando comigo. Eles sabem onde moro, que sou casada, que tenho cachorro, etc. Eles já sabem meu perfil de pessoa e isso facilita o trabalho deles. Tenho que admitir que é espetacular o trabalho deles. Assim como toda a infra-estrutura oferecida a estes profissionais. A delegacia é linda e muito bem equipada. Em geral são grandes prédios, bem protegidos. Para você entrar lá, é necessário tocar um interfone e o acesso é controlado. Os veículos e todos os equipamentos usados pelos policiais são de primeira. É nítido que eles trabalham satisfeitos e gostam do que fazem.

Delegacia

E o que mais me impressionou por aqui foi a “ausência” de polícia na rua. Na verdade, assim que cheguei no Canadá eu percebi que não via muitos policiais fazendo ronda ou coisa do tipo. Mas eu estava completamente enganada. Eles estão por toda parte. É muito comum eles circularem pelas ruas com carros “a paisana”. Você não percebe que são policiais pois andam em carros aparentemente comuns. De repente você vê luzes e sirenes vindo de um veículo normal. Os carros são em sua maioria disfarçados. Só dá para perceber que são policiais se você parar para observar bem a dupla dentro do veículo e ver que estão de farda. Mas quem fica na rua olhando dentro de todos os carros??? Impossível! E não existe um padrão de automóvel para estes carros disfarçados. Tem de todos os tipos, grande, pequeno, caminhonete, van, sedam, etc. Então, antes de pensar em fazer qualquer coisa errada, acredite, tem um policial por perto e você nem imagina onde.

carro da policia à paisana

Não parou para o pedestre? - uol-uol-uol-uol – sirene na certa!
Passou no farol vermelho ou não parou no amarelo? - uol-uol-uol-uol – sirene na certa!
Andou acima da velocidade? - uol-uol-uol-uol – sirene na certa!
Furto? - uol-uol-uol-uol – sirene na certa!
Vandalismo? - uol-uol-uol-uol – sirene na certa!

Não importa, qualquer coisa errada que seja feita, eles pegam!

Então, não tem jeito. O negócio é seguir as regras mesmo! E mesmo que eles não estejam lá, não é bom viver em um lugar organizado e seguro? Então, seguimos as regras e isso significa se encaixar na nova cultura. Mas tudo bem, se quiser errar, vai se pego! Eu sugiro fazer as coisas certas ;)