sexta-feira, 24 de julho de 2015

- Fim da primeira experiência canadense [DELA]



*** Post atrasado, mas escrito com muito carinho. ***
[A história é sobre o lado feminino do PriMauCanada]
Agora senta que lá vem a história...

É com um imenso orgulho que encerrei a minha história profissional na Starbucks. É difícil mensurar a felicidade que senti neste momento. Não por deixar a empresa, mas por ter concluído uma experiência que jamais imaginei que passaria na vida, menos ainda que me acrescentaria tanto. No momento em que deixei a loja no meu último dia de trabalho, tive uma sensação de realização inexplicável. Fiz o meu último percurso de volta para a casa rindo sozinha no carro. Estava um dia de sol com uma brisa geladinha. Uma delícia. E enquanto eu passava pelo meu trajeto habitual, eu observava todos os detalhes daquele caminho que fiz por um tempo e que se tornou tão especial. Não saía da minha cabeça a imagem que tive daquele mesmo percurso no meu primeiro dia de trabalho. Foram mais ou menos uns 30 minutos de retrospectiva daquele período que se encerrava. Eu me sentia vencedora por ter completado aquele ciclo da minha vida. É engraçado como algumas coisas aparentemente simples podem fazer tanto por nós, sem mesmo que isso tenha sido algo projetado como plano. 

Nunca planejei um dia trabalhar em uma cafeteria. Quando criança, os adultos me perguntavam o que eu queria ser quando crescer, e juro, nunca respondi “barista”. Nunca cogitei colocar este cargo no meu currículo. Passei a minha fase de adolescência e de adulta focada em construir uma carreira especializada. Carreira esta que deveria ser envolvida por uma agenda cheia de compromissos, grandes responsabilidades, excelente network e, claro, muito sucesso. E assim, trabalhei bastante para correr atrás daquilo que parecia ser o ideal. Mas aí veio a vida me mostrar que talvez isso não fosse exatamente o que eu queria. E apesar das coisas estarem caminhando rumo ao desejado enquanto eu morava no Brasil, eu ainda me sentia incompleta. Eu precisava de outro tipo de desafio. Eu queria mais, não sabia exatamente o quê, mas queria algo completamente diferente do que eu estava vivendo. E olha que eu gostava muito do que eu fazia pela minha carreira. Eu era (e ainda sou) muito orgulhosa das minhas conquistas profissionais. Mas por mais que eu estivesse no curso para conseguir o que eu tanto desejava profissionalmente, um dia qualquer percebi que aquilo não bastava, antes mesmo de alcançar o tal sucesso almejado. Se é que isso um dia aconteceria. Aquele turbilhão de tarefas, emails, ligações, valores, números, pessoas, relacionamentos, cargos, empresas, missões, visões e longas jornadas de trabalho de repente viraram um peso. Todo dia era mais um dia com todo aquele ciclo de coisas infinitas para cumprir. A rotina não parecia mais ser a carreira legal dos meus planos. Nada daquilo tinha mais o “brilho” dos meus sonhos de mais jovem e as coisas não estavam mais fazendo tanto sentido. A verdade é que em certo ponto, eu não entendia mais o propósito de construir a aspirada carreira promissora. Toda aquela atmosfera profissional estava mais me sufocando do que agregando. A vida estava ficando sem graça, com pouca diversão e muito trabalho. Eu estava me tornando adulta demais. E foi quando esta história de mudar para o Canadá, que já estava caminhando, começou de fato a fazer sentido. 

É isso aí Priscila, queria mais? Queria algo mais desafiador? Pois bem, foi isso o que você conseguiu! 

Gente, já falei isso aqui e repito, imigrar é FODA (assim mesmo, com todas as letras, FO-DA). E por que estou falando tudo isso exatamente neste post? Porque trabalhar na Starbucks foi o maior desafio que eu tive na minha carreira profissional até o momento. Sei que parece bobagem para quem vê de fora. Mas não estou de brincadeira. E isso faz total sentido. 

Uma carreira especializada não é construída da noite para o dia. Desenvolver uma carreira é um longo e árduo processo de crescimento diário que começa bem do início, desde a escolha pela área de atuação e profissão, passando pelos estudos e cursos, até conseguir a primeira oportunidade de trabalho no campo escolhido. Depois vêm as experiências dia a dia, as especializações, os treinamentos e mais oportunidades. O profissional cresce aos poucos, aprende lentamente e anda passo a passo. E claro que tudo isso requer muita disciplina, empenho, tempo e suor. Sem mencionar o dinheiro. Mas aos poucos, o mundo que antes era desconhecido vai se tornando familiar, as coisas passam a fazer sentido, e depois de muita dedicação e tempo a pessoa passa de um simples estudante imaturo para um profissional responsável, tomador de decisões e/ou criador de grandes ideias. Tudo isso é muito legal. O fato é que uma carreira é construída devagar. É o mesmo que subir uma longa escada degrau por degrau até conseguir atingir um patamar de reconhecimento e resultado. Enfim, este foi o cenário que imaginei para a minha vida e para o qual eu estava batalhando muito no Brasil. Até o dia que tudo isso mudou, por opção. 

E aqui estava eu, no Canadá, colocando tudo isso em uma gaveta. Toda esta carreira profissional envolvida por experiência, conhecimento e dedicação teve que ser guardada em uma caixinha de veludo e armazenada por tempo indeterminado. As experiências pessoais passaram a ser as minhas únicas ferramentas na nova vida de expatriado. 
E foi assim que me vi quando cheguei aqui: “sem lenço, sem documento, nada no bolso ou nas mãos (...)”. E no meu caso sem idioma. E a Starbucks entrou na minha vida neste momento. Começar a trabalhar lá foi algo incrível, completamente diferente de tudo o que eu havia vivido antes, e por isso foi tão desafiador. Mas mais do qualquer coisa, foi extremamente ASSUSTADOR. Gente, estou sendo honesta. Nos primeiros meses, (isso mesmo, MESES), eu fiquei apavorada. Eu tremia na hora de ir para lá e tremia mais ainda quando estava lá. Eu chegava em casa querendo chorar. Só me perguntava: “Meu Deus, o que estou fazendo aqui? Como vim parar nesta situação? O que eu tinha na cabeça quando decidi largar tudo para trocar por isso?”. Eu não entendia direito o que estava acontecendo a minha volta pela falta do inglês e por tudo ser diferente do Brasil. E isso fazia eu me sentir completamente perdida e desamparada. Tudo era novo: o trânsito, a experiência no trabalho, a rotina em outro país, a vizinhança, a escola, o idioma, o médico, o banco, o correio, literalmente tudo. E é isso o que faz a fase inicial da vida de imigrante se tornar tão difícil. A somatória de pequenas coisas novas. Como todo dia há algo para aprender e/ou se adaptar, a cabeça fica a mil. Você passa a pensar para fazer tudo. Nada mais é natural ou automático. E mais significante do que tudo: é o emocional e o racional trabalhando junto lado a lado a cada segundo. E minha gente, se paciência e persistência não fazem parte das características/personalidade de um imigrante, acreditem, vai ter que adquiri-las. 

O trabalho foi só mais uma destas milhares de novidades que tive que me adaptar. Foi muito difícil trocar o conhecido pelo novo. Afinal, eu havia me preparado para uma carreira que aparentemente não tinha nada a ver com o meu novo trabalho. Eu não havia sido preparada para aquilo. Nunca tinha estudado ou discutido algo do tipo. E isso me dava pânico. Aliás, o desconhecido é algo que sempre me assustou. Como algo tão simples poderia se tornar tão difícil??? Pois bem, não sei a resposta, só sei que foi assim. Mas com o tempo fui me acostumando. 

No começo foi bem complicado, sobretudo por causa da falta do inglês. Eu morria de medo de ser demitida. A cada coisa errada que eu fazia já imaginada uma cena “you’re fired”. Eu me sentia bem pressionada pela necessidade de me manter no emprego. Por isso, no início eu tentei compensar a falta do meu inglês com os serviços práticos. Então logo já tratei de aprender a fazer as bebidas como craque. Mas isso não foi assim tão fácil. As pessoas falavam comigo, explicavam as coisas e eu não fazia ideia do que estava se passando. Eu não tinha nenhuma habilidade para a coisa e era completamente desastrada. Sem falar que eu tremia muito por causa do nervosismo, o que me tornava ainda mais desajeitada. Depois de duas semanas, a gerente começou a exigir de mim que eu fizesse as bebidas em sequência e rápido. Nossa, desastre total! Para piorar um pouco, isso aconteceu durante a época do natal, que é o período de mais movimento na loja. Eu não tinha como treinar ou estudar em casa, não tinha como me preparar. Tinha que fazer ali, na hora, do jeito que o cliente queria e na velocidade que a Starbucks exigia. Eu só me focava em “segurar o choro” (rssssssss). Eu respirava fundo, tentava apagar a mente, deixar o emocional de lado e me focar no que tinha que ser feito. E no fim fiquei boa na coisa. Sério! Muito boa mesmo. Os clientes passaram a me elogiar e adorar as bebidas que eu preparava. E isso não foi à toa, porque eu era bem caprichosa com todos os detalhes. Aí fui me sentindo mais confortável e segura. Eu já estava pronta para ser a melhor barista do mundo! Mas as coisas não pararam por aí. Depois tive que lidar com a função de caixa. Nossa, isso era uma tortura na minha vida. Bastava um cliente entrar na loja para fazer um pedido que eu já gaguejava de nervoso. Demorei para pegar o jeito. Mas também me adaptei. Comigo, a questão da falta do inglês foi realmente fundamental para transformar tudo isso num verdadeiro inferno. Demorei para entender como as coisas funcionavam. Cada dia era um enigma na minha vida. Eu nunca sabia o que estava por vir. Mas o tempo foi passando, fui pegando a prática e depois de alguns meses eu já treinava os novos co-workers. Os clientes passaram a me conhecer, eu já tinha liberdade para trocar os shifts, direito às férias e tudo mais. Depois as coisas foram melhorando. E dia a dia fui entendendo como a cultura local funcionava, como lidar com as pessoas no Canadá, pegar mania das expressões mais familiares. Resumindo, comecei a compreender um pouco de como o mundo em volta de mim girava. Claro que ainda estou neste processo de aprendizado diário, mas a Starbucks começou a me mostrar que eu era sim capaz de me encaixar no lugar e que tudo seria (e ainda é) questão de tempo. A ansiedade passou a ser substituída pela curiosidade. A timidez pela vontade de falar. O medo foi se transformando no conhecido. 

Mas claro que nem todos os dias eram legais. Tiveram muitas vezes, muitas mesmo, que eu queria largar tudo. Eu queria dizer em alto e bom som “I quit”. Cada vez que um cliente perdia a paciência ou era grosso comigo, eu queria me esconder em algum buraco. Quando uma determinada supervisora era agressiva desnecessariamente eu queria sair correndo de lá. Quando eu tinha milhares de coisas para fazer e a loja estava abarrotada de clientes, eu queria chorar de nervoso. Sei que todo mundo passa por isso. Mas ali na hora, eu achava desaforo vivenciar coisas assim pelo trabalho que estava sendo feito. Nossa, foram vários os momentos que eu me odiei por estar ali. Tiveram dias que foram verdadeiros sofrimentos. Nestas horas, eu pensava muito no meu marido que também estava batalhando diariamente para se adaptar ao trabalho dele. Eu lembrava do quão difícil e custoso foi o processo para conseguir o PR. Esforçava-me para lembrar do quanto eu queria estar aqui. Reforçava na minha mente que tudo o que eu estava passando foi minha própria escolha. Eu juntava isso tudo e me apegava à vontade de superar mais esta dificuldade. Aí novamente eu respirava fundo, focava-me no que eu queria bem lá na frente, incorporava o máximo de humildade possível e seguia a diante esperando que o próximo dia fosse melhor. 

Além destes dias difíceis, outra barreira que tive foi a questão de ser trabalho físico. Nossaaaaaa, isso não é para qualquer um. Fico impressionada com as pessoas que trabalham em cargos que exigem resistência física. Tenho muita admiração por garçons, pedreiros, lixeiros, padeiros, caixas de supermercado, domésticas, entregadores, carteiros, cabelereiros e todas as profissões que envolvem mão de obra braçal. Tem que ser muito bom para isso. Sei bem que trabalho em escritório pode ser exaustante e estressante, mas naqueles dias em que você está cansado, com dor de cabeça ou doente, é possível exercer as funções necessárias, mesmo que “meia boca”. Agora lá na Starbucks (e similares) a história é diferente. Completar um shift doente é extremamente complicado, principalmente mantendo a performance em dias de grande movimento com sorriso no rosto. E nem é só a questão de quando está indisposto, de uma forma geral, completar o shift já é uma intensa empreitada. Muito disso depende da duração da jornada e da quantidade de dias seguidos que se trabalha na semana. Houve ocasiões em que fiz 10 dias consecutivos com 8 horas de trabalho, fechando a loja. Fechar a loja é a tarefa que mais trabalha fisicamente, pois a pessoa é responsável pela preparação de todas as bebidas, manutenção dos equipamentos e ainda o preparo de todos os suprimentos para o dia seguinte. Eu ficava esgotada na manhã que se seguia. Mas dava conta. Depois de um tempo, passei a ser escalada para abrir a loja. Eu mesma havia pedido isso à gerente. E apesar de começar o trabalho às 5:00h, as tarefas eram bem mais leves do que fazer o fechamento. 

Uma coisa que achei bem vantajosa em trabalhar na Starbucks foi a flexibilidade de horário. Claro que isso depende da boa vontade da gerente, mas a minha era ótima. Na época que a Jesse (minha amada cachorrinha) estava doente, conversei com a minha chefe e pedi que diminuísse a minha escala somente para final de semana. Isso permitiria que eu cuidasse dela em dias úteis e o Maurício nos finais de semana. Ela aceitou e por meses só trabalhei de sábado e domingo. Gente, isso foi muito conveniente. A minha gerente foi bem compreensível e me ajudou nesta fase. Poder estar com a Jesse quando ela mais precisou de mim é algo que sempre vou lembrar e agradecer. Eu pude me dedicar à minha peluda e isso não tem preço. Claro que meu salário ficou inexpressível no nosso orçamento, mas ainda assim, pude manter meu emprego e ajeitar a nossa vida para aquilo que era o melhor no momento. 

E assim as coisas foram caminhando. Com dias muito bons, e outros nem tanto. A rotina foi se transformando em experiência e conhecimento. Novas habilidades passaram a fazer parte de mim. 

Eu conheci bastante gente, vi muitas pessoas vivendo momentos lá, bati bastante papo furado. Vi pessoas rindo, outras chorando. Convivi com ricos e pobres, com executivos e estudantes, gente de todas as idades, nacionalidades e religiões. Preparei drinks para comemorações, bebidas para abrigos de sem teto ou simplesmente um cafezinho do dia a dia. Trabalhei em dias de sol, de chuva, de neve. Vi o sol nascer e o sol se pôr. Abri e fechei a loja muitas vezes. Conversei com os loucos e drogados que viviam na redondeza. Ajudei muitos idosos e cadeirantes. Brinquei com crianças e cachorros. Aprendi a me relacionar com as pessoas. Descobri que muito do que eu já sabia, podia sim ser usado a meu favor aqui. Aprendi que tudo na vida é um ensinamento. Conheci novos valores. Dei muita risada, chorei, sofri, me diverti. Conquistei pessoas. Fiz parte da rotina de muita gente. Recebi muitos “bom dia”, “boa noite”, obrigados e abraços. Dei o meu sangue e o meu suor por aquilo. Dei o melhor de mim para o que eu tinha no momento. Afinal, temos que jogar com as cartas que temos na mão. E quando eu menos esperava, o meu trabalho estava fluindo e já estava na hora de dar um novo passo. 

Depois de determinado período trabalhando na Starbucks, mesmo que somente de final de semana, já estava ficando claro que eu não poderia ficar por muito mais tempo naquele emprego. Minha gerente sabia que esta experiência seria temporária. Por isso, ela mesma tentou me ajudar achar uma vaga na “Starbucks Corporation”, ou seja, no escritório da empresa. Lá eu poderia tentar algo relacionado a marketing ou arquitetura, ou qualquer coisa que fosse ligado a administração. Ela entrou em contato com pessoas, mandou meu currículo para alguns conhecidos, indicou vagas que estavam em aberto na empresa e até arranjou um jantar com uma pessoa que já trabalhava internamente neste departamento. Ela foi um amor tentando me ajudar. Ela dizia que gostava muito de mim, do meu trabalho e comprometimento. Ela vivia falando que a Starbucks tinha sorte de me ter e que ela gostaria que eu ficasse na empresa, mas que ela também sabia que eu não poderia ficar na loja por causa do meu currículo e experiências passadas. Ela dizia que eu merecia crescer. E era muito confortante ouvir aquelas palavras. É verdade que eu realmente fui muito dedicada. Nunca parei para pensar na posição que eu estava ou qual tarefa que eu deveria fazer. Eu dava o melhor de mim. 

Tem duas coisas que meus pais me ensinaram que tento seguir. A primeira é: “não importa o que você faça, dê sempre o melhor de si”. E a segunda é: “se você não faz o que sabe ou gosta, aprenda a saber e gostar daquilo que faz”. Pois bem, na Starbucks foi assim. Tentei fazer o melhor que pude e saber o máximo sobre aquele novo mundo. Além disso, eu via sim o lado positivo daquela experiência. Claro que tinham os dias difíceis, e quem não tem? Mas apesar das dificuldades e barreiras, eu gostava de estar o dia todo falando com pessoas. E tinha uma coisa que eu adorava naquele emprego. Quando eu saía de lá e colocava o meu pé para fora do loja, eu não precisava mais pensar em nada. Não havia mais preocupação e o expediente se encerrava de verdade. E isso era excelente, é algo que eu ainda não conhecia. No Brasil, não importava a hora e onde eu estava, minha cabeça sempre estava focada no trabalho, pensando num projeto, apresentação, plano, reunião ou qualquer coisa. Na Starbucks o meu trabalho e vida pessoal não se misturavam, e eu achava aquilo tããããão bom! 

É isso aí, muita coisa boa acontece na vida sem que a gente planeje. Às vezes, a diferença está nos detalhes e cabe a nós observar e apreciar as pequenas coisas que a vida nos dá. E hoje sou muito grata por tudo o que vivi neste emprego e pela chance que foi dada a mim. Quando eu precisei, a Starbucks estava lá, abrindo as portas e me dando a oportunidade de recomeçar. Acreditou em mim muito mais do que eu mesma acreditava. Entrou na minha vida, trouxe novos ensinamentos e hoje faz parte da minha história. A minha gerente foi a pessoa mais doce do mundo. Não somente pela paciência, mas por toda a compreensão e suporte. Sempre pronta para ajudar e estender a mão. Quando tudo estava difícil, ela sorria e fazia as coisas caminharem para frente. Tive supervisoras maravilhosas. Fui reconhecida pelo o que eu fiz. Tenho certeza de que serei lembrada por muitas pessoas que fizeram parte disso tudo. E eu sempre lembrarei e contarei sobre esta fase que vivi. E no fim, depois de anos tentando construir a super carreira no Brasil, a Starbucks veio e me mostrou valores que eu havia perdido no meio do caminho. 

Tudo isso que vivi foi um período que me fez muito orgulhosa de mim mesma. Percebi que sou flexível e persistente. Sou muito mais do que imaginava que poderia ser. Vi em mim uma coragem que eu não sabia que eu tinha. Vi uma capacidade de aprendizado que também era desconhecida. Reconheci valores que não faziam parte da minha vida e relembrei de outros que estavam esquecidos. Passei por cima do preconceito, dos outros e do meu próprio. Criei novas perspectivas, superei obstáculos e agreguei novos conceitos. Enfim, depois de muita história de dedicação e aprendizado, chegou o último dia. Finalmente a minha jornada na Starbucks acabou, dando fim ao meu primeiro emprego canadense. Foram exatos 1 ano e cinco meses, começando no dia 12 de novembro de 2013 e encerrando em 12 de abril de 2015. Dezessete meses de aprendizado. E mais um ciclo da minha vida se fechou, mais um capítulo chegando ao fim pra dar espaço para o início de uma nova experiência. 




quarta-feira, 15 de julho de 2015

- Paranoia de verão


Todo mundo conhece o Canadá pelo inverno, frio rigoroso, neve, urso, alce e castor. Mas olha, devo dizer que o verão aqui não é nada para se ignorar, muito pelo contário, é uma estação maravilhosa. E como nada é perfeito nesta vida, o verão também tem lá seus defeitos. Aliás, um único defeito. Esta estação de muito sol e calor deixa as pessoas loucas e paranoicas, e claro, isso inclui a mim. Admito! Estou doidinha nesta temporada. Desde a metade da primavera, uma “nova Priscila” incorporou em mim. E esta “nova Priscila” não é desconhecida porque fomos apresentadas no ano passado, incrivelmente na mesma estação. E hoje reconheço que isso é culpa do verão! É isso mesmo, o verão é uma doença altamente contagiosa, e se não tomar cuidado, te pega com tudo!!!

A estação chega de mansinho como quem não quer nada trazendo ceu azul, muito, muito, muito sol e dias longos. O sol nasce por volta das 5:00h da manhã e só se põe depois das 21:00. É impossível não ficar envolvido pela atmosfera da estação. Todas as pessoas tentam aproveitar o dia o máximo possível. E aí é onde entra a paranóia desta história. Nós passamos a aproveitar cada hora, minuto, segundo do dia até as energias acabarem, literalmente. Parece que o mundo vai acabar no dia seguinte. Uma ansiedade toma conta da gente. Uma consciência (ou subconsiência) nos faz tentar compensar a qualquer custo o período de “hibernação” do inverno que se foi e do próximo que está por vir. Existe um desespero para tirar a poeira dos dias curtos, frios e chuvosos do inverno, que somado à vontade de estar ao ar livre, faz qualquer pessoa se tornar louca.

Exageros à parte, as pessoas lotam as agendas com atividades de todos os tipos. Encontros com os amigos em restaurantes, bares, happy hours, churrascos sem fim. Práticas de esportes a todo momento, se possível duas vezes por dia, ou até três se der. Presença nos diversos eventos espalhados pela cidade, que aliás, são incontáveis. Todo dia tem algo (ou “algos”) acontecendo. Sempre há o que fazer. E se não tiver, é fácil de inventar. Sério, as pessoas piram! Todo mundo parece aqueles monstrinhos terríveis do filme Gremlins (nossa, fui longe agora, este filme é de 1984!). Enfim, deu para entender né?!

Ficar dentro de casa é incomcebível. E claro que nós entramos no ritmo da galera. Marido e eu também estamos tentando fazer tudo e qualquer coisa ao ar livre. Até o nosso Netflix está meio congelado. Cada vez que chego em casa e vejo o ceu azul lá fora, já penso: “Ah meu Deus, o dia está tão lindo, tenho que sair.” No nosso caso, quase não estamos indo aos eventos que acontecem na cidade durante a estação, mas por opção. Resolvemos que este ano iríamos nos dedicar as atividades relacionadas ao esporte. O Mauricio ainda está em fase de recuperação do joelho, que foi operado no início do ano. Pelo calendário do médico/fisioterapeuta, agora ele está no momento de começar a fazer movimentos mais livres, ou seja, não tão dependentes das máquinas de academia. E não há melhor época para isso do que o verão, sobretudo aqui em Vancouver que é uma cidade preparada para atividades externas. Então temos feito algo depois do trabalho todos os dias, unindo o útil ao agradável. E realmente temos aproveitado muuuuuito esta época. Claro que não estamos restritos somente aos esportes. Churrasco, bares, restaurantes e econtros com amigos também tem ocupado nossos dias ensolorados. Para resumir, gastamos caloria num momento e consumimos o dobro logo depois (rssss). Mas a diversão tem sido garantida. E o que mais temos feito???

 

Para quem não sabe, hiking nada mais é do que uma caminhada em locais naturais, geralmente trilhas que cruzam algum tipo de floresta ou bosque. Aqui em Vancouver e arredores não precisa de nenhum esforço para achar um lugar bacana para praticar o hiking. Marido e eu temos feito duas vezes por semana uma trilha chamada Grouse Grind que é conhecida pelo grau de dificuldade, popularmente chamada de “Mother Nature’s Stairmaster”. E sua fama não é a toa, afinal, é uma subida de 2.9km de distância com elevação de 853m. Para quem nunca foi, eu recomendo você imaginar uma escada de pedra com altos degraus que te levarão até o pico partindo da base da montanha. A altura seria equivalente a um prédio de aproximadamente 285 andares, mais do que dois edifícios do Empire State Building. O desafio está no tempo de alcançar o topo, e admito que não é fácil. Para se ter uma ideia, o tempo que gasto para completar os 2.9 km é quase o mesmo que gasto para correr 10km. Loucura né? A “caminhada” não é muito demorada e gira em torno de 1 hora. E mesmo não sendo das mais longas trilhas, é uma ótima opção para queimar umas calorias, algo próximo de 600kcal, ou mais dependendo da pessoa e do ritmo. Vale ressaltar que durante a subida, eu em particular sempre me pergunto o que estou fazendo lá, porque me torturo tanto, para que tanto sofrimento, para que passar por isso. Juro que é F@#*. Mas lá no fim, depois de todo esforço, a satisfação de concluir aquela trilha de pedras em meio as arvóres não tem preço. Como o nosso objetivo é mais pela diversão (e desafio) do que pela estética, comemoramos o fim do hiking tomando umas cervejas no restaurante que tem lá no topo (quando fazemos isso de sexta-feira). A vista é incrível e recomendo a tentativa para todos!!!  Se você não é masoquista e fã do “sofrimento”, existem outros hikings bem legais para praticar. Nós mesmos fizemos outro dia uma trilha que fica ao redor de um lago lindo, chamado Buntzen Lake. Fica perto de casa e o passeio é ótimo. Existem várias opções de trilhas no local para todos os gostos. A mais longa tem 10 km e dá para concluir em duas horas sem dificuldades e sem paradas, apenas caminnhando. Se optar em nadar no lago de vez em quando durante o percurso, acrescente mais uma hora na diversão. Neste passseio, apesar de ser bem fácil, queima-se quase 1.000kcal por causa do tempo de trilha. Nós fizemos este hiking com uns amigos e foi ótimo, sobretudo porque encerramos o dia com um belo churrasco e muita bebida. Neste caso, as tais 1.000kcal não foram o suficiente para compensar os comes e bebes, mas tudo bem, o plano era a diversão e isso nós alcançamos!!!! Só mais um detalhe. Na região deste lago, há praias de água doce, trilha para quem gosta de passeio a cavalo e locais específicos para cachorros se divertirem sem coleira. Hiking é uma atividade que só comecei a fazer depois que me mudei para o Canadá. É uma prática comum aqui na região e muito prazerosa. O melhor de tudo é poder praticar um esporte e aproveitar a paisagem que as florestas locais oferecem. E é um programa que pode ser aproveitado por todas as idades.


Está aí mais um passatempo incluído na nossa agenda de verão. Pelo menos duas vezes por semanas (também) colocamos nossas bikes para rodar. Nós as usamos somente para o lazer, mas para quem gosta, aqui é fácil incluir a bicicleta como transporte diário. O local que mais frequentamos para esta atividade é o conhecido Stanley Park, por ser bem acessível para nós. Eu trabalho literalmente há duas quadras do parque, então assim que saio do escritório já vamos para lá. É uma boa forma de gastar o tempo ao ar livre durante a hora do rush e evitar o tráfego intenso da “volta do trabalho”. Geralmente curtimos o Seawall como percurso principal do nosso passeio, que é um caminho que rodeia todo perímetro do parque. Este trajeto é utilizado apenas para o passeio de bicicleta, patins, skate e pedestre/cachorro, ou seja, nada de carros. O ponto alto deste percurso é a paisagem, pois como o parque é banhado pelo mar em seu entorno, durante o trajeto é possivel curtir as vistas de mar e “floresta” ao mesmo tempo. Aliás, acho que em qualquer lugar desta cidade a paisagem é linda. Este roteiro é imperdível. Para quem for turista, é muito fácil alugar uma bike nas redondezas do parque. Além disso, há diversos bares e restaurantes nas proximidades para uma paradinha extra. Para quem ainda tiver tempo, vale a pena curtir o pôr do sol a partir desta parte da cidade dando uma parada na Third Beach, que é uma pequena praia de areia localizada no litoral do próprio Stanley Park. A verdade é que por ser um passeio em meio ao famoso parque de Vancouver, há várias atividades extras para fazer se preferir à bike. No nosso caso, damos prioridade à atividade fisica.


E lá vamos nós praticar mais esporte. Apesar da corrida ser uma atividade viável em qualquer estação aqui em Vancouver (mesmo no inverno), vamos combinar que o verão é bem convidativo.  No meu caso em particular, procuro correr logo pela manhã ou final da tarde, pois como os dias tem sido muito quentes, depois das 10h da manhã eu já acho muito desgastante. E ainda assim, quando acabo saindo para a minha corrida depois deste horário nos finais de semana, tento ir para alguma trilha para evitar o sol direto, pois as temperaturas tem ficado acima de 30 graus. Muito quente! Com o marido a história tem sido diferente. Desde a cirurgia, ele ainda não pôde nem pensar em chegar perto de um tenis de corrida. E isso dá até dó, pois ele está numa ansiedade tremenda para voltar a correr. O médico já antecipou que vai liberá-lo para esta atividade a partir do mês que vem. Coitado, ele tem contado os dias para a primeira tentativa. Ele está ansioso e apavorado ao mesmo tempo, porque apesar de ele querer muito fazer isso, a performance dele ainda é desconhecida. Eu não tenho dúvidas de que ele voltará super bem para as corridas pois ele já faz os hikings difíceis sem nenhuma dificuldade. Agora é questão de mais alguns dias para podermos fazer isso juntos. Por enquanto, tenho corrido sozinha, umas quatro vezes por semana. O que significa que em alguns dias chego a fazer exercícios mais de uma vez por dia. “Quem te viu e quem te vê Priscila!!”


Ok, ok, já cansei de ouvir falar que não se pode viver só de exercícios aeróbicos pois isso acaba com os músculos e consequentemente haverá chances de problemas futuros nas articulações. Alguns ortopedistas já me disseram isso, alertaram-me de que não basta praticar qualquer exercício. É importante fortalecer os músculos para manter o corpo com determinada resistência, pois os tais músculos protegem o corpo, e blá blá blá. Mas fala sério! Você já viu o céu azul lá fora???? Você realmente espera que eu vá fazer exercício debaixo de um teto, numa sala escura, presa a uma máquina, de frente para um espelho maledeto???? Faça-me um favor! Isso é até uma ofensa. Confesso que isso tem sido um sofrimento para mim. Equanto marido vai religiosamente na academia logo pela manhã, eu vou somente às vezes, e ainda reclamando. Gente, juro, está muito difícil ultimamente criar pique para uma rotina dentro de uma salada fechada. Só de pensar naqueles aparelhos já fico de mau humor. Na minha opinião, é até pecado se enfiar numa sala equanto o sol está raiando lá fora. Está vendo? E este é o espírito do verão. Uma sensação de culpa por não estar aproveitando o que a estação permite. Não sei o que acontece, mas dá uma pequena claustrofobia pensar em ficar fechada em um espaço coberto entre paredes quando se pode estar ao ar livre. Já basta passar 9 horas dentro de um escritório. E é isso o que acaba fazendo com que eu me torne paranoica igual a todo mundo ao redor e só querer ficar de baixo do céu azul.


Indo na contra mão dos esportes, o churrasco tem sido uma outra atividade intensamente praticada por nós neste verão. Desde que compramos nossa primeira churrasqueira, quase não coloquei panela no fogão. Até hoje me pergunto porque esperei tanto para adquirir este equipamento santo milagreiro. Sim, santo e ainda milagreiro. E por que isso? Primeiro porque agora marido me ajuda com o preparo das refeições. Segundo, porque não faço mais sujeira dentro de casa cozinhando por horas. Terceiro, porque nossas carnes, frangos e legumes tem sido muito mais saudáveis no modo de preparo, exceto pelo acompanhamento da cerveja (rsssssss). Quarto, receber amigos em casa ficou muito mais fácil!!! Quinto, porque agora marido me ajuda com o preparo das refeições. Já falei deste item né? Mas é porque ele vale por dois mesmo (hahahahah). Coitado, agora ele é que sofre. Quando vou pensar no cardápio, minha cabeça já começa me dizendo: “Bom Priscila, o que vamos comer hoje que pode ser feito na churrasqueira para o Mauricio preprar”. Maldade né? Mas isso é brincadeira (ou não). A verdade é que realmente as carnes e frangos ficam muito mais apetitosos, até mesmo para levar no dia seguinte para o trabalho como marmita.  E com o calor que tem feito, temos comido muita salada como acompanhamento, o que também ajuda na praticidade de tudo. Além disso, com tantas atividades sendo praticadas todos os dias, não temos mais tido tempo para ficar cozinhando. Então temos procurado fazer coisas mais rápidas. Só estou torcendo para continuar usando esta churrasqueira no inverno, nem que seja para evitar a sujeira dentro de casa. Como diz o marido: “Logo logo você vai querer fazer macarrão ou sopa na churrasqueira só para não ter que cozinhar nada no fogão”. Imaginem só? É uma ótima ideia, não é?


Aproveitando o embalo do assunto anterior, o verão traz mais um excelente benefício para nós: fartura de comida. É isso mesmo. Esta é a hora de aproveitar para comer muitas frutas e vegetais. Eles estão por toda parte a preços bem razoáveis (baratos jamais!). É nesta estação que conseguimos aproveitar para comer tudo fresquinho. Mesmo que importados, muitos itens são bem frescos e deliciosos. Dá gosto ir ao mercado nesta época para comprar hortifruti. Nós ficamos perdidos com a quantidade de frutas e verduras que podemos comer nesta época. Temos até que tomas cuidado para não comprar demais e desperdiçar. As cerejas, blueberries e morangos estão deliciosos. E os abacaxis e laranjas então??? Nossa! É de encher os olhos de lágrimas. Exageros a parte, brasileiro que mora aqui sabe bem como é difícil comer uma boa fruta suculenta. No inverno então, vivemos só de banana e maçã. Eu falo brincando que agora é a hora de repôr as vitaminas, tanto as que são adquiridas por meio dos alimentos como a vitamina D que vem através da exposição do sol. Gente, o verão está aí. Hora de tirar o atraso do tempo perdido no inverno e correr atrás de nutrientes. Sério, como fruta todo dia e o dia todo! Até parece que vim do deserto.
 

Como resultado de tanta euforia, todos os dias estamos na rua fazendo alguma atividade bacana, aproveitando tudo o que Vancouver oferece, especialmente as áreas naturais e parques. Aí você está lendo o post e pensando: “Caramba, eles devem estar em boa forma!”. Só que não. Porque como mencionei, junto com tudo isso vem as cervejas e os petiscos. Aqui, pelo menos em Vancouver, as pessoas tem mania de cerveja tipo craft (artesanal) e isso também acaba entrando no espírito da estação. Então onde quer que você vá, sempre há uma novidade, uma cerveja diferente, uma experimentação e quando menos espera, já tomou umas e já comeu um monte de tranqueiras para acompanhar. Mais uma vez, culpa do verão! Um verdadeiro desastre. Ainda acho mais fácil emegracer no inverno, pois você vive de sopa, corta a cerveja, e pronto. Mas mais do que isso, apesar de eu amar aproveitar o verão, às vezes bate um cansaso por estarmos tão ativos. Não é a toa que precisamos do inverno para “hibernar”. Hoje acho que “hibernarmos” para descansar da ressaca do verão, e não por causa do frio. Mentira, não é nada disso! O frio realmente nos faz abaixar o ritmo. O fato é que as estações são completamente diferentes umas das outras e tentamos aproveitá-las o máximo possível de acordo com o que cada uma proporciona. E isso é a melhor parte daqui do Canadá (Vancouver): o benefício das quatro estações definidas. Cada estação, um clima diferente, que traz para a nossa vida atividades completamente distintas. Sempre o ar de renovação! Uma delícia. E que saber? Hoje é o verão que está aí fora e é ele que eu vou aproveitar. Mas ainda quero dar um conselho de amiga: “Não sigam os nossos passos de se contagiar pela doença do verão e querer aproveitar tudo custe o que custar. Evite exagerar na euforia, pois no ritmo que estamos, talvez nem chegaremos no outono vivos.” Tem dia que fico tão cansada, tão acabada, tão esgotada, que torço para o marido sugerir assistirmos um filme, ou pelo menos um seriado de 30 minutinhos só para eu poder relaxar no sofá um pouco. Só para respirar. E acreditem, este dia ainda não chegou. Ele tem uma energia sem fim! Então deixa eu terminar por aqui porque tenho sair para fazer alguma coisa lá fora!

Até o próximos post!