terça-feira, 24 de novembro de 2015

- Cabelereiro no Canadá


 

VERSÃO FEMININA DO BLOG 

Atenção: esta história é baseada em fatos reais e contém cenas descrições fortes (rssss)

Imigrar não é a mesma coisa que uma experiência temporária fora de um país. Não é igual às férias, ou ao intercâmbio, ou ao período de estudo, etc. Um imigrante em teoria não tem data marcada para ir embora, e inevitavelmente vai ter que se virar em todos os ângulos da vida. Parece bobagem, mas este “tudo” é maior do que eu poderia imaginar. 

E devo admitir, cuidados pessoais podem virar um trauma na vida de qualquer um. É difícil manter a vaidade na mesma proporção que se tem no país nativo. As questões fincanceiras somadas à nova cultura podem fazer uma micro experiência virar um desastre total. E sem querer ser injusta com os “garotos”, acho que a vida DA imigrante pode ser um pouco mais complexa e assustadora. 

Desde que eu cheguei no Canadá, eu tenho passado algumas aventuras femininas que eu preferia nem lembrar. Cuidado com o cabelo está entre elas, e tem sido um show de horror!! Se eu fosse homem já teria optado pela versão “careca”. E ainda não decidi se fico feliz ou triste em saber que aparentemente o problema não é exclusivamente meu. Parece que todo mundo que muda para cá sofre com a questão. 

Quando cheguei aqui, meu cabelo era comprido, castanho, com mechas claras, com alisamento definitivo e super cuidado. Os meses foram passando e este aspecto foi mudando. As delicadas madeixas de princesa foram dando lugar a algo esquisito, mais parecido com cabelo de bruxa de conto de fadas. Os fios foram crescendo, a raíz sem alisamento aparecendo, as mechas implorando por retoque, e claro, ficando sem corte. Nos primeiros meses, eu fui tentando lidar sozinha com a peruca. Sem grana sobrando e sem conhecer nenhum profissional, tentei resistir ao máximo colocar o meu amado cabelinho em risco. Por um tempo fui mantendo as coisas em ordem do jeito que dava, aparando as pontas com tesourinha em casa, hidratando os fios de forma caseira, secando ali, alisando acolá, e ajeitando da forma que fosse possível. 

Mas chegou aquele momento em que não dava mais para negar o problema. Eu queria mesmo era esperar para refazer tudo no Brasil, mas marido insistia de que eu deveria achar um profissonal aqui e cortar o “codão umbilical” com a terrinha. Afinal, de agora em diante as coisas deveriam ser feitas no “meu novo país”. Resolvi dar ouvidos a ele. Assim, comecei a procurar um monte de indicação de profissionais. Até que uma brasileira me recomendou um salão que é bem conhecido por aqui. Eu até que gostei da ideia de recuperar meu cabelo com profissionais de renome, afinal eles teriam uma reputação a zelar. 

PARTE 1 

A primeira tentativa foi retocar o alisamento definitivo, após seis meses que eu havia imigrado. Liguei para agendar o serviço no tal salão indicado, quando me disseram que eu deveria passar por uma consulta com o profissional para avaliar o meu cabelo antes de fazerem o serviço. Eu já gostei disso: “Opa! Beleza! Profissionais cuidadosos!” (ponto positivo). Fui até o local para conversar com a hair stylist com meu inglês “bem vergonhoso”. Na ocasião, eu só havia tido três meses de aula de inglês. Admito que eu estava preocupada com a comunicação e medo de explicar tudo errado. Imagina só se saio do salão com o cabelo tingido de roxo e corte moicano??? Mas tudo bem, parecia que ela estava entendendo o que eu queria. Além disso, eu também tomei as minhas precauções. Para ter certeza de que não ficaria careca assim de cara, conversei com a minha cabelereira no Brasil e peguei as informações dos produtos que poderiam ser usados sem riscos. Ela me deu várias dicas e nomes de produtos que seriam compatíveis ao que já havia sido feito anteriormente. Devo frisar que já faço alisamento definitivo há 12 anos. Ou seja, eu ja sou experiente na coisa! Por sorte, a cabeleria canadense ia usar exatamente o que a brasileira havia sugerido (mais um ponto positivo). Sai de lá feliz da vida e com a data marcada. 

Enfim, chegou o dia D. Eu estava com medo e apreensiva. Até parecia que eu ia passar por uma cirurgia. “Ridículo Priscila. Para de ser criança! Estamos falando de um cabelo!!! Simplesmente um cabelo!”. Chegando no local, fui bem recebida, direcionada para uma cadeira onde já havia uma bandeja com todos os produtos e utensílios que seriam usados. Realmente parecia que seria uma cirurgia (mais ponto positivo). Tudo mega organizado. Enfim, tudo foi feito de forma bem parecida com o procedimento que eu estava acostumdada no Brasil, desde o produto até o procedimento por completo, exceto pelo tempo. Em duas horas eu já estava pronta para ir para casa. Fato que estranhei pois no Brasil eu nunca saí do salão antes de 5 horas. Mas até aí tudo bem, de repente o canadense sabe mais né?! Isso eu só saberia no dia seguinte após lavar o cabelo e ver o resultado. 

E tchan tchan tchan…. Qual foi o resultado???? Uma porcaria! No dia seguinte após lavar o meu cabelo, a droga do serviço não tinha ficado bom. Que raiva. Só para esclarecer, meu cabelo natural nem é enrolado, é apenas ondulado. Para mim, alisar o cabelo é uma questão de praticidade e conveniência, para ser independente do secador e viver livre para tomar chuva (impreterível em Vancouver). Só quem alisa entende o vício de manter os fios ajeitados. Voltando à história… nem pensei duas vezes e liguei para reclamar. O salão agendou uma nova data para refazerem o serviço. Na semana seguinte voltei para o local. A profissional jurava que estava bom. Segundo ela, o problema estava no “conceito de liso”. Ela dizia que o canadense não gosta de cabelo muito liso. (Oi????) Tipo… você acha mesmo que eu pagaria caro pelo serviço para alisar só um pouco???? Eu fui clara que eu queria retocar o alisamento da raiz para manter o mesmo padrão. Na verdade eu nem precisava explicar como eu queria, afinal, o resto do cabelo já estava alisado e dava para ver como deveria ficar. E tudo foi refeito, mas desta vez a filha da mãe levou 5 horas para fazer tudo. Pelo menos algo familiar.

E lá fui eu no dia seguinte lavar meu cabelo. Uhuuuuuul. Estava quase liso. Que alívio né?! NÃÃÃÃÃO. Conforme eu penteava meu cabelo, vários fios começaram a quebrar. Não cair pela raíz, mas quebrar no comprimento. Entrei em desespero!!! A besta quadrada da cabelereira fez o alisamento duas vezes na minha raíz certo? Só que a FDP (leia-se: efe dê pê) estendeu o produto além da raíz que deveria ser retocada. Então parte do cabelo que já estava alisado acabou recebendo o tratamento também, ou seja, três vezes no total!!!

Nossa, eu chorava muito. Não tinha mais o que fazer, o estrago já estava feito. Eu nem queria mais reclamar, porque se eu visse a mulher novamente, eu a esganaria. Enfim, meu cabelo ficou um horror. E olha que eu nem cheguei a cortá-lo. O resultado foi um cabelo sem corte, meio liso, um terço podre e sem retoque das mechas. Ficou pior do que antes, quando eu parecia apenas uma bruxa. Agora eu estava mais para zumbi. 

PARTE 2 

O trauma foi tanto que eu queria distância de qualquer profissional canadense. Eu só entrei novamente em um salão quando fui visitar meus pais no Brasil e a cabelereira brasileiríssima ajeitou minhas madeixas. Aí sim, um corte descente e um retoque de alisamento profissional!!! Para se ter uma idéia do estrago feito pela FDP canadense, a cabeleira da terrinha se recusou a fazer a mechas. Segundo ela, certamente eu ficaria careca se eu tentasse passar qualquer coisa para alterar a cor. Na ocasião, ela sugeriu que eu cortasse o cabelo para retirar toda a parte danificada, o que significaria um cabelo chanel. Eu não quis. Optei em fazer um super tratamento para recuperar os fios o máximo possível. Ajudou um pouco, mas ainda estava muito danificado. 

Depois deste trauma, ainda com os cabelos podres no comprimento, conheci uma brasileira no Canadá que é cabelereira. Hoje ela uma amiga queridíssima. Ela tem mantido o corte e a qualidade dos meus fios através de tratamento de recuperação. O único ponto negativo, é que ela não faz alisamento definitivo. Ou seja, esta saga ainda não havia acabado na minha vida. 

PARTE 3 

Sabe como a vida é, o tempo não pára. E assim como o tempo continua passando, o cabelo continua crescendo. E mais uma vez chegou a hora de achar um outro profissional. Louca, pedi indicações novamente. Entre várias que eu recebi, decidi ir a um salão bem simples, pequeno e só com profissionais japoneses, como me sugeriram. Neste momento, eu queria o oposto de tudo o que procurei antes. 

Desta vez, nada de frescura, nada de consulta prévia com o profissional. Tudo prático e sem delongas. Liguei, marquei e fui. Vamos lá Priscila. Vamos arriscar novamente. Eu repetia para mim mesma: “Na pior das hipóteses, vou ter um cabelo ‘não muito liso’. E se desta vez não ficar bom, eu NÃO vou reclamar e menos ainda deixar que refaçam qualquer coisa”. 

Chegando ao local, de fato era extamente como haviam descrito. Só japoneses. Bom, pelo menos eu teria o autêntico alisamento definitivo japonês. Tudo foi diferente do que eu estava acostumada. O tempo, o processo, o idioma. Tudo!!! Eu queria sair correndo de lá. Eu só pensava que estava tudo errado. Desta vez certamente eu sairia de lá com o cabelo roxo, no mínimo. De vez em quando eu perguntava para o profissional o que ele estava fazendo. Às vezes eu tentava dar umas dicas sobre o meu cabelo e o relembrava do meu trauma. Ele só dizia que eu conheceria o verdadeiro alisamento japonês. Cada vez que ele favala aquilo, na minha cabeça já vinham umas imagens de Hello Kitty e daqueles orientais Cosplay. Socorro!!! Hoje sairei daqui igual a um daqueles adolescentes coloridos. Só vai faltar o sapato plataforma. 

Depois de umas 3 horas tudo terminado. Até este momento eu não estava com cabelo colorido e nem careca. Já era um bom começo. De qualquer maneira, eu só saberia qual seria o resultado no dia seguinte. Uhuuuuuuul, ficou ótimo!!! Excelente! Na verdade, eu até gostei mais do que o alisamento que eu fazia no Brasil. Desta vez ficou bem liso, mas com aspecto bem natural. Sedoso, brilhante, e eu feliz da vida!!! 

Agora só preciso fazer de vez em quando um tratamento de recuperação dos fios. Mas isso nem é obrigatório, é só um cuidado que sempre tive e quero manter pois ajuda na qualidade dos fios. Nem é por frescura. Apesar de não frequentarmos praia aqui, o clima local também danifica bastante a cabeleira. 

E o corte???? Este trabalho ficará para a minha querida amiga. De jeito nenhum eu arriscaria com o japonês. Imagina eu explicando em inglês como eu queria as camadas??? No way! A minha santa amiga continuará a cuidar das madechas. E as mechas??? Desisi delas por um tempo. Vou aproveitar a cor natural do cabelo enquanto posso. Os fios brancos já estão começando a aparecer e logo logo será inevitável ter que disfarçá-los (rssssss).

VERSÃO MASCULINA DO BLOG 

PARTE ÚNICA

O marido também tem história. Vou contar como foram são as experiências dele por aqui. Ele entra em um salão qualquer, de uma hora para outra, sem agendar, pergunta se alguém está disponível. Se sim, ele mostra uma foto antiga dele para o profissional e pede para fazer igual. Enquanto o cabelereiro corta, ele fica lendo notícias. Quando o hair stylist termina o serviço, o marido olha para o espelho, diz “ok”, paga, e vai embora. E sempre dá certo!!!!! Não que o marido não ligue para isso, mas sempre fica bom. E mesmo que não ficasse, ele diz que na pior das hipóteses rasparia careca ou usaria boné. Fácil né?! 

Mas calma aí rapaziada, sugiro que não sejam tão confiantes como o maridão. Já ouvi umas histórias de homens que tiveram resultados completamente diferentes do que esperavam. Cautela é sempre bem vinda!

E assim nossa vida vai entrando na rotina… Careca ou não...