quarta-feira, 6 de abril de 2016

- Mercado de trabalho



Finalmente resolvi escrever sobre mercado de trabalho (ou não).

A maior preocupação das pessoas interessadas em mudar para o Canadá (ou qualquer outro lugar no mundo) está relacionada ao mercado de trabalho. A boa notícia é que você não está sozinho, não é uma pessoa louca, e nem paranoica. Preocupar-se com o “ganha-pão” e questões financeiras é perfeitamente natural, aliás, uma premissa para pensar em sair do país nativo. A má notícia é que eu sou a última pessoa para lhe ajudar com isso, sorry!!! 

Eu queria muito sair por aí falando sobre este assunto, divulgar oportunidades e dar dicas maravilhosas para ajudar todo mundo. Eu amaria falar sobre as profissões, cargos, salários, e tudo o que traz dúvidas às pessoas que pensam em imigrar. Mas infelizmente, isso é impossível para mim. E não é a toa: 
  1. Não sou especializada em avaliação de mercado; 
  2. Não sou economista (menos ainda uma Miriam Leitão) para dar números e gráficos reais sobre o país; 
  3. Não tenho tempo de vivência local nem para dar um micro palpite; 
  4. Ainda estou muuuuuito longe de trabalhar na mesma posição que eu ocupava no Brasil; 
  5. E se eu não sei NADA sobre arquitetura que é o meu mercado de atuação, certamente sei menos ainda sobre outras profissões. 

Gente, não quero criar inimigos com este post e nem desanimar as pessoas. Mas eu não sei nada sobre mercado de trabalho. Simples assim. Se mal consigo resolver a minha própria situação, o que eu poderia dizer dos outros (rssss)???

As pessoas têm feito umas perguntas que eu não tenho (e nunca terei) a resposta. Todo dia tem gente me questionando sobre como está o mercado de trabalho por aqui (oi???). Nossa, não existe pergunta mais genérica e redundante do que esta. Eu nem imagino qual é a resposta que estas pessoas querem receber de mim, de verdade. Será que esperam que eu diga o número de vagas disponíveis, valores de salários, profissões em alta? Eu nem saberia por onde começar um assunto deste. Aliás, "mercado de trabalho" nem poderia ser tópico de uma única pergunta, e sim algo a ser discutido em um blog só sobre este tema. Isso é um assunto a ser estudado e compreendido por meio de várias perspectivas e interfaces. Não é algo simples que poderia ser dado em um único texto. Infelizmente não tenho conhecimento para arriscar qualquer palpite sobre economia e oportunidades. 

Sobre este bicho de sete cabeça, o que eu posso dizer é que eu sei que a vontade de mudar de país ou passar por uma experiência no exterior traz insegurança e todo mundo quer se resguardar o máximo possível antes de tomar uma decisão de sair da posição de conforto. O medo é natural. Acreditem, já estive nesta situação (aliás, ainda estou). Mas não existe fórmula infalível para entender o mercado de trabalho. Não há pesquisa capaz de apresentar números que garantam uma oportunidade. Não existe vaga com o seu nome. Não há empresas esperando por você, independente de qual seja a sua área ou especialização. Não existe informação suficiente para assegurar qualquer sucesso profissional. 

Não tem fórmula mágica. Não existe bola de cristal. Não tem jeito, não há outra forma de vir se não for assumindo um risco. 




>> IMIGRAR = RISCO <<

Eu não quero assustar ninguém. E sim alertar de que não adianta sair que nem louco pesquisando um monte para ver se acha a previsão para o seu futuro aqui no Canadá. Muito pelo contrário, quero é confortá-lo dizendo que toda esta insegurança e ansiedade por resposta às suas dúvidas é completamente normal. Aliás, fico até assustada quando alguém vem 100% seguro e confiante de que basta fazer as malas e pegar um avião para dar continuidade na vida por aqui. Mas mais uma vez, não há solução. É triste, eu sei. Mas se quiser vir, vai ter que ser na raça e tentar a vida nova passo a passo igual a todas as outras pessoas. 

Vai ter que começar do zero, voltar ao início da carreira, mudar o modo de vida, enfrentar o medo, o preconceito, o desconhecido. Não tem como vir para cá e pular a etapa de adaptação. Isso é inevitável e faz parte da vida do imigrante. Não é opcional. E ainda considerando a sorte de conseguir algo no campo de atuação desejado. Não são raras as situações de imigrantes que trabalham completamente fora da área assim que chegam aqui. O meu próprio caso é exemplo disso. Ou todo mundo acha que recomeçar a minha carreira no Canadá trabalhando na Starbucks era o meu sonho? Já passei desta fase. Mas isso não significa que alcancei o degrau que quero.

É impossível mudar de país com mente fechada. Gente teimosa não vai para frente. Tem que estar preparado para o que der e vier, independente do que seja. É fundamental ter a cabeça aberta para qualquer oportunidade. Ser flexível é essencial.

Cada vez que alguém me pergunta como está o mercado de arquitetura por aqui, tento fugir da resposta. Porque a verdade é que eu quero dizer que está "um horror e decadente". Vindo de mim, não teria a menor possibilidade de haver uma resposta muito otimista, afinal, eu mesma ainda não consegui uma recolocação adequada à carreira que construí no Brasil. E gente, acreditem, não sou uma pessoa limitada ou péssima profissional. Tenho muito estudo e um sólido background. Não sou burra ou coisa do tipo. É o puro fato de que as pessoas não aceitam o estrangeiro aqui como profissional qualificado até que este tenha adquirido alguns anos de experiência local. A princípio, a qualificação do imigrante adquirida no país nativo é considerada quase insignificante. E não precisa duvidar de mim. Basta fazer uma rápida pesquisa de vagas da sua área e logo perceberá a exigência de “x” anos de trabalho no mercado canadense. E não fui eu quem determinou isso. Acreditem, estou me matando para passar este período de conhecimento local para poder correr atrás de algo equivalente ao meu histórico profissional. Infelizmente tenho que passar por esta etapa antes de poder pedir “truco” ou dar um “xeque-mate” em qualquer entrevista de emprego. Se é que isso um dia vai acontecer. 

Depois de conversar com várias pessoas por aí, tenho chegado a conclusão de que sempre estarei trabalhando em uma posição atrás do que a minha carreira me qualificaria no Brasil. Todo mundo que eu conheço tem a mesma sensação. A maioria não admite, mas quando tenho aquelas conversas em “off”, as pessoas acabam admitindo uma pequena frustração no que se refere a carreira. Claro que morar aqui tem as suas compensações e muitas vantagens. Não tenho dúvidas disso. Mas estes pontos positivos definitivamente não estão ligados às expectativas profissionais. 

Mas tudo bem né, querendo ou não, pensando bem, uma das razões de eu ter vindo foi justamente por ter percebido que a minha "sonhada" carreira estava ocupando espaço demais na minha vida pessoal. Então, também não adianta eu ficar reclamando da minha atual posição quando, na verdade, o excesso de trabalho também era algo que me incomodava no Brasil. Aliás, é um ótimo momento para repensar a carreira e não repetir os mesmos erros do passado. Ser “workholic” decididamente está fora dos meus planos atuais. E se isso é algo que defini para mim mesma, seria incoerência da minha parte querer assumir o mesmo nível profissional que eu tinha anteriormente. Às vezes acho que é até bom as pessoas “desconsiderarem” a minha experiência. Assim a minha vida fica razoavelmente mais calma. 

Mas independente do que escolhi para mim, é importante ter em mente que aqui existe concorrência, igual a qualquer lugar no mundo. Conseguir um emprego dependerá de vários fatores, sendo alguns deles alheios a você. É fundamental considerar que da mesma forma que você estará procurando uma vaga, outras pessoas também estarão. E parte deste grupo será de canadenses. Por isso, vale muito a pena já colocar na cabeça que ser imigrante é uma desvantagem. Não espere que você concorrerá de igual para igual com uma pessoa que nasceu e estudou aqui. No fundo, há um preconceito contra os estrangeiros sim. Mas não por questões culturais, e sim profissionais. “Business is business, money is money”. Ninguém te contratará para uma posição alta se houver um canadense disputando a mesma vaga com formação e experiência “equivalente” à sua. Você acha mesmo que alguma empresa optaria por você a um profissional com conhecimento local? E que ainda se formou em uma instituição reconhecida, que já está adaptado a cultura e aos costumes do país, e se comunica perfeitamente? A resposta é não. Você sairia perdendo. Por isso gosto de dizer que tudo depende da concorrência. 

Além disso, esta história de que o Canadá precisa de mão de obra especializada é “conto de fadas”. Do jeito que as pessoas falam por aí, até parece que o país é formado por gente sem escolaridade. Muito pelo contrário. Diferentemente do Brasil, vai ser raro demais você encontrar uma pessoa analfabeta, ou semianalfabeta. Isso simplesmente não existe aqui. O governo oferece a educação básica gratuitamente a todos os residentes. Escolaridade até o “highschool” (que talvez seja equivalente ao meu colegial - não sei mais como se chamam os níveis no Brasil atualmente) está disponível a todos, e com qualidade. Ou seja, a pessoa mais simples terá uma educação razoável, ao menos o suficiente para disputar umas vagas por aí. E falando inglês (rsssssss). 

A verdade é que a sua carreira começará do zero, o que significa iniciar lá do comecinho mesmo. E isso se tiver sorte de já conseguir o primeiro emprego na área. Eu não estou falando isso baseado exclusivamente na minha experiência. Isso é um fato real, inclusive o próprio governo canadense reconhece a necessidade do imigrante considerar um “entry level job” no início da vida aqui. Qualquer pesquisa feita no Google sobre “newcomers” e “job” vai mencionar a hipótese de considerar a entrada no mercado de trabalho canadense através de um emprego simples, mesmo que seja para adaptação local. 

Tem vaga? Sim. Tem oportunidade? Sim. Conseguirá trabalho? Sim. Com o mesmo padrão que o do Brasil? Aí já não posso afirmar. Como mencionei anteriormente, acho difícil demais isso se tornar realidade, pelo menos no início. 

Claro que há chances de se conseguir algo excelente, mas a conta “realidade x expectativa” fará a diferença na vida das pessoas que querem vir. Quanto mais pé no chão, maior a chance de dar certo. Quanto menor a expectativa, maior será a chance de conseguir enfrentar as dificuldades da fase inicial. As pessoas não podem idealizar de que existe uma vaga de trabalho especial esperando por elas. O mercado não está desesperado procurando por profissionais como dizem. Isso é um mito. Não há empresas disputando o “funcionário no ano”. Repetindo o que o marido disse outro dia para um conhecido (que ainda está no Brasil): “Não pense que basta deixar cair a identidade na rua e já estará empregado". Antes de mais nada, você terá que entender onde se encaixa profissionalmente no país. Quais as vagas que pode trabalhar com o conhecimento que tem. Naturalmente, terá que distribuir muitos currículos. Depois de muita dedicação e um pouco de sorte, passar por entrevistas. Talvez precisará viver a ansiedade da espera e a angustia do rejeito. O desespero vai bater. Isso faz parte. Mas em algum ponto, cedo ou tarde, as coisas vão se encaixar. Mas só após de uma determinada batalha e um certo esforço.

Bom, é isso. Lembre-se de que você será mais um aqui. Sem nada de especial para oferecer. Assim como você construiu uma carreira excelente até hoje, madrugou noites e noites, estudou milhões de cursos, trabalhou horas extras sem fim e vem se esforçando horrores nos últimos anos, outras pessoas também fizeram isso. O seu tremendo esforço é um grande mérito, mas não é uma característica exclusiva sua. Portanto, se você souber ver a realidade como ela é e entender que o mundo está aí aberto para todos, um grande passo já terá sido dado. Abra a mente, respire fundo e enfrente as surpresas que a vida em outro país lhe trará. Só arriscando para saber o pode acontecer.