*Antes de você começar a leitura deste post, quero lembrar que o texto foi elaborado com base no pouquíssimo conhecimento que eu tenho no momento a respeito de arquitetura no Canadá. Por mais óbvio que seja, quero ressaltar que tudo o que está escrito aqui não deve ser considerado como fonte de informações relacionada à profissão, mercado de trabalho e tampouco sobre validação de documentação. Desta forma, antecipo que não tenho conhecimento suficiente para avaliar o mercado e nem oportunidades da área. Sem mais delongas, vamos lá...
Como já escrito no blog, somos um casal de arquitetos loucos suficientes para deixar uma vida profissional (e pessoal) para trás e imigrar para o Canadá em busca de um novo modo de vida, e isso significa mudar nossos costumes. E mais do que isso, mudar nossos valores e maneira de encarar a vida. Para deixar bem claro, em nenhum momento viemos atrás de dinheiro e/ou ascensão profissional.
Mas isso também não significa que pretendíamos esquecer nossas experiências adquiridas na carreira e fingir que não aprendemos nada até hoje. Nós dois completaremos 10 anos de formado agora em dezembro e, vamos combinar, o nosso conhecimento profissional aumentou muito neste período. Mesmo sabendo que ainda temos muito para aprender, não dá para descartar o que já conseguimos até hoje né?! Pensando nisso, nosso plano macro foi o de trabalhar na nossa área, até porque fizemos o processo de Skilled Worker e, em tese, teríamos oportunidades como arquitetos no Canadá. No entanto, sempre tivemos consciência de que daríamos alguns muitos passos para trás na nossa carreira, sobretudo no início da vida canadense.
PREPARATIVOS NO BRASIL
Apenas como contexto, lembro que quando fizemos o processo de imigração, as coisas eram um pouco diferentes de hoje. O tempo era de pelo menos dois anos de espera e o andamento do processo era incerto em relação a sua evolução, e não sei o porquê, o acompanhamento do status pela internet era algo que não funcionava e vivia desatualizado. As notícias concretas eram apenas através do recebimento de cartas (até parece que foi a mil anos atrás). Cada correspondência era um passo que havia avançado, mas até o recebimento da última solicitando os nossos passaportes, não arriscamos fazer nenhum planejamento real. Até então, era só a vontade de mudar.
Resumindo, por um tempo deixamos a nossa vida em stand by porque não sabíamos se viríamos ou não. Foi um período meio "perdido" em que ficamos em cima do muro. O máximo que fazíamos era viajar a turismo mesmo. Sempre usávamos a frase: "não sei se vale a pena fazer isso, porque não sabemos se vamos para o Canadá e blá blá blá..." Era um saco! Por conta de tantas incertezas, não tínhamos nenhuma opção debaixo da manga quando chegamos no país. Nenhum emprego, nenhuma entrevista, nada em vista.
Nos 3 meses antecedentes à nossa vinda, tentamos correr atrás de informações mais sólidas sobre o nosso mercado de trabalho na cidade em que tínhamos escolhido. Queríamos nos preparar para a nova fase o máximo possível, mas isso foi em vão. Enquanto estávamos no Brasil, não foi muito fácil conseguir informações úteis e todo o conteúdo que conseguíamos era sempre muito vago. Em função disso, não pudemos nos preparar muito para o que viria pela frente, assim, assumimos que seria pelo caminho mais difícil e faríamos tudo na raça mesmo. Resolvemos que aceitaríamos iniciar em algo simples (survival job) até nos adequarmos a nossa área. Estando ainda longe, restou poucas alternativas e faltando um mês para a viagem a única coisa que fizemos foi juntar o máximo de documentos profissionais que pudemos. Traduzimos somente os do Maurício e os meus eu deixei para traduzir no Canadá.
No meu caso, eu tenho duas formações e ainda não sabia sei qual é o mercado local com mais e melhores oportunidades. E como ainda tinha tenho que aprender o idioma, não quis antecipar gastos na tradução de qualquer coisa sem saber o que realmente seria necessário.
Para resumir, não sabíamos o que os canadenses iam querer de nós, mas sabíamos o que podemos oferecer. Pensando desta forma, separamos os documentos que pudessem comprovar as nossas experiências:
- diplomas
- certificados de cursos complementares e especializações
- históricos escolar
- cartas de referência
- fotos e históricos de projetos realizados
- ementa (*)
* A ementa, para quem não sabe, é a descrição de um curso e de todas as matérias que o compõe. Cada instituição dá um nome para este documento, mas o que vale é o conteúdo. Esta ementa deve descrever detalhadamente cada disciplina e as respectivas cargas horária. O documento é utilizado para fazer a equivalência das matérias, pois como cada universidade pode dar o nome que bem entender para as disciplinas, fica difícil avaliar o que o aluno realmente aprendeu. Por isso, é imprescindível ter este documento para quem pretende (ou for obrigado) estudar por aqui. Isso facilita a análise da formação do profissional e permite eliminar matérias de cursos locais e diminuir o seu tempo de duração. A ementa é mais importante para profissões regulamentadas para as quais a formação do profissional é avaliada por algum órgão local.
Mas de todos os documentos citados acima, hoje eu diria que as cartas de referência são as peças mais importantes deste quebra-cabeça.
NO CANADÁ: ARQUITETURA
Antes de mais nada, todas as informações que passarei aqui não são formais e não devem ser consideradas como verdade absoluta. Apenas descreverei as coisas que conseguimos até o momento e são válidas para a região que estamos, British Columbia.
Indo ao assunto... quando chegando no país o Maurício foi logo saber como "ser arquiteto" no Canadá. Até então, a única coisa que sabíamos é que é profissão regulamentada. Aqui, assim como no Brasil, existe um órgão responsável pelos arquitetos chamado Architectural Institute of BritishColumbia (AIBC) que seria o equivalente ao antigo CREA e atual CAU. Ele foi até lá para saber como as coisas funcionam e o que descobriu foi que a primeira coisa que um arquiteto estrangeiro tem que saber quando chega no Canadá é se é um profissional elegível (ou não) para ser arquiteto.
SER ELEGÍVEL OU NÃO, EIS A QUESTÃO
Mas o que isso quer dizer? Esta expressão "ser elegível" significa que a pessoa graduada em arquitetura tem condições técnicas para exercer a profissão no país de acordo com as necessidades locais. Aqui, ter o título de arquiteto não é algo simples que vem automaticamente após o término da faculdade, na qual basta fazer um bom trabalho de graduação no final do curso e pronto.
Ser arquiteto no Canada é um pouco mais complicado e a profissão é levada bem mais sério. A diferença principal está na questão do registro. Após a conclusão do curso, o estudante formado por aqui ainda precisa fazer mais dois anos de especialização e, após isso, ainda fazer uma prova para conseguir tirar o registro. Antes de qualquer pânico, mesmo sem o registro é possível trabalhar como arquiteto em algum escritório, mas o profissional não poderá assinar nenhum projeto tecnicamente e claro, não será contratado como arquiteto. Provavelmente terá um cargo de desenhista, designer de interiores ou similar.
No caso de um imigrante que já seja arquiteto no país nativo, quando chega no Canadá, pode aplicar para saber se é elegível ou não. Para isso é feita uma avaliação da experiência na carreira, que deve ser comprovada através de uma entrevista e por papéis (cartas de referência, contratos, portfólio, diplomas, históricos, etc).
Basicamente é avaliado o conhecimento técnico com o propósito de saber se o profissional é habilitado para atuar na área por aqui. Traduzindo em meias palavras, se a pessoa sabe projetar em conformidade às condições locais. Neste caso, é bem dividido arquitetura de design de interiores.
As principais habilidades consideradas para a elegibilidade são:
- criatividade,
- habilidade de desenho,
- proficiência em matemática,
- habilidade em CAD (preferencialmente sistema BIN),
- conhecimento oral e escrito do inglês (incluindo termos técnicos da área),
- qualidade e clareza na comunicação (o que é diferente de saber o idioma),
- conhecimento em técnicas construtivas similares às do país.
Em relação a tudo que é avaliado, não vejo nenhum problema pois é a base de arquitetura mesmo. Talvez a única coisa que complica seja a questão dos métodos construtivos que são bem diferentes das do Brasil. Aí, não ter este conhecimento é algo natural mesmo. Mas um pouco de estudo pode resolver o caso.
CASO 1 : profissional não elegível
A primeira coisa que o arquiteto tem que ter em mente é que a forma de projetar é completamente diferente. Os principais quesitos considerados importantes são os conhecimentos técnicos relacionados aos métodos construtivos, que devem ser adequados às condições climáticas (neve, vento, temperatura, localização no hemisfério norte, etc) e à prevenção contra incêndio.
Vamos supor que o profissional seja excelente, fez milhares de projetos maravilhosos no Brasil, era famoso e ainda assim não consiga comprovar experiência suficiente para trabalhar como arquiteto no Canadá. É um caso perdido???? Não. E não há necessidade de se desesperar pois há solução.
Esta pessoa terá que fazer um curso de adequação para complementar o seu conhecimento profissional para se tornar elegível. Aí entra a história daquele documento chamado ementa. Será feita uma avaliação de equivalência entre os cursos do Brasil e os daqui. Dependendo de como foi a formação do aluno, assim como a sua performance, várias matérias serão eliminadas. Então, o tempo deste curso poderá variar muito, podendo ser de 1 ano a 5 anos. Após o curso, aí sim o profissional poderá fazer a prova para se tornar arquiteto registrado.
CASO 2 : profissional elegível
No nosso caso, apenas o Maurício já foi ver qual é o seu "status". Ele tem alguns pontos a favor pois já trabalhou na Suíça e sabe fazer projetos em condições equivalentes às canadenses (exceto as questões legais). Como ele tinha como comprovar esta experiência somada às adquiridas no Brasil, ele foi considerado elegível. Mas a história não pára por aí...
Para conseguir o título, ele precisa primeiro trabalhar em uma empresa de arquitetura por seis meses, na qual o arquiteto titular seja registrado. Após este período, este arquiteto deve dar uma carta indicando o Maurício a ser registrado.
Com a carta em mãos, ele aplica para tirar o registro. A partir daí, fará uma prova e passará por uma avaliação técnica feita por um Board (um grupo específico de arquitetos) que verificará se ele estará habilitado para tirar o título.
Ufa! Estando tudo ok, recebe o registro.
A grande dificuldade disso tudo é conseguir emprego em uma empresa que esteja disposta a fornecer a tal carta e que o arquiteto titular seja registrado e ainda dê a indicação. Mas aí, eu já acho que é uma questão de tempo. Por isso, se a pessoa realmente quiser ser registrado, terá que se focar neste detalhe na procura do emprego. A vantagem é que é um profissional mais valorizado, claro, além de poder assinar projetos.
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No meu caso, ainda não sei se trabalharei nesta área ou na outra, então nem perdi tempo correndo atrás destas coisas. O Mau acha que vale a pena tirar o registro pela valorização de currículo, mas isso será algo mais para o futuro porque ele ainda precisa criar um histórico por aqui que comprove a experiência e subir um pouco no plano de carreira para chegar na tal carta.
Na prática, eu acho que o tempo de fazer o curso ou conseguir a tal carta é o mesmo. A vantagem de já ser elegível é que não precisa gastar $$ pagando por uma outra faculdade, mesmo que seja parcial.
O que eu acredito, é que independente da formação ou qualidade profissional, o imigrante tem que ter paciência pois é um recomeço na carreira. Tem estar disposto a descer vários degraus da escada na profissão. Eu em particular acho que isso faz parte e ninguém disse que seria fácil. Se já é difícil se destacar na área no próprio país onde tudo é conhecido, não precisa nem dizer o quanto é mais árduo o trabalho em outro país. Ou seja, aqui temos que voltar para trás para começar a carreira novamente láááá do início. Se vale a pena? Só o tempo nos mostrará.
Bom, mas aí vai de caso a caso. Espero que este post esclareça um pouco para quem tem dúvidas a respeito.
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Mais informações... no próximo post (clique aqui). Se você leu até aqui e ainda tem dúvidas sobre a nossa opinião a respeito do mercado de trabalho, sugiro ir vários posts a frente clicando aqui.
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NOTA IMPORTANTE PARA INTERESSADOS EM ARQUITETURA
Para informações a respeito de cursos de arquitetura e áreas relacionadas, consulte um site interessante clicando aqui.
Além deste, duas universidades mais conhecidas por aqui também oferecem vários programas interessantes e vale a pena acessar os sites da UBC.
Abaixo relaciono alguns links diretos ao assunto que podem ajudar:
UBC - ARQUITETURA
UBC - SUSTENTABILIDADE
UBC - PAISAGISMO
UBC - URBANISMO
UBC - MERCADO
UBC - PROGRAMA