terça-feira, 16 de abril de 2013

- Pedestre Paulistano - questão de vida ou morte



Coincidência ou não, quando está próximo da data de ida, parece que você começa a ver alguns sinais ao seu redor que aumentam a sua indignação em relação ao seu próprio país, pelo menos à minha cidade. Não quero ficar falando mau do Brasil no blog, até porque amo este lugar. Fui criada neste país tropical cheio carisma e sol. Minha vida sempre foi aqui e só tenho a agradecer o que vivi nesta terra maravilhosa. Claro que tem milhares e milhares de coisas positivas, mas o fato de adorar este país, não me deixa cega em relação aos seus defeitos. 

Uma das coisas que sempre me incomodou foi o deslocamento de um lugar para outro. Nada funciona! Nem o carro, nem o ônibus, nem o trem, nem o metrô e nem o pé. Fazer uma simples caminhada pode se tornar uma enorme aventura nas ruas e calçadas paulistanas. E a ironia disso, é que andar a pé deveria ser algo que depende só de você. Mas infelizmente não é simples assim. A vida do pedestre em São Paulo não é uma coisa fácil. Toda vez que estou neste papel penso que chegar com vida em casa no final do dia é uma questão de sorte. Por que este pensamento maldoso? Vamos aos fatos...

Caminhar pela calçada é a mesma coisa que fazer aula de dança. Um passo para lá e outro para cá, em alguns momentos um delicado pulinho e às vezes um salto triplo mortal. Tudo isso porque simplesmente você tem que andar desviando de todos os obstáculos que existem em seu caminho: buracos, calombos, degraus, desníveis, tampas mal colocadas, árvores, postes, lixeiras, escadas, mesas, guichês de manobristas, carros estacionados, poças de água, etc, etc, etc, e muitos etc. E se der sorte, será pedestre em um dia de sol, porque andar na calçada com guarda-chuva é praticamente impossível, já que não tem espaço para abri-lo. O negócio é usar capa de chuva. Então, o segredo é tentar ser "zarolho", ou seja, usar a técnica de colocar os olhos em dois sentidos diferente. Um olho se direciona ao chão, outro à frente. Caso não consiga utilizar este artifício, certamente passará uma vergonha. Ou vai tropeçar, ou trombar com algum elemento presente em seu caminho. Claro que outro pedestre talvez consiga desviar de você, mas se for um poste... a preferência será dele. Também devemos lembrar que você deve se tornar uma pessoa manca. Como as calcadas são preparadas para os veículos entrarem nas garagens, a superfície é inclinada, então um pé sempre tem que pisar "mais baixo" do que o outro. Se você é mulher e não liga nada para seu visual, pode tentar usar salto alto em apenas um dos pés para compensar o desnível do solo. E ainda bem que pisar em dejetos de animais significa sorte, assim, você não precisar ficar irritado quando isso acontecer, o que não é nada difícil.

Nesta semana ainda tive um susto em uma das caminhadas, pois tive que desviar de um motoboy esperto que resolveu cortar caminho pela calçalda. É claro, que o policial que estava perto fingiu que nem viu.

Ah, e atravessar a rua? Isso sim é tarefa perigosa. Devia existir treinamento para praticar este "esporte radical". A preferência é do mais forte e, claro, não será você como pedestre. Primeiramente seja cuidadoso com a guia rebaixada, ou melhor, com a tentativa de ser rebaixada. Em segundo lugar, aguarde com muuuuita calma a vez do pedestre (e isso pode levar algumas horas). Em terceiro, quando chegar a sua vez olhe para todos os lados. E quando digo todos, estou me referindo literalmente a todos. Olhe para a esquerda, direita, para trás, para frente e se bobear, para cima. Você terá pouquíssimos segundos para atravessar. Mas não corra, porque poderá tropeçar em algum obstáculo e cair. Vá com calma até a ilha central da avenida e aguarde a próxima oportunidade. Aí você começa todo este processo novamente.

Pessoas com alguma restrição física, sofre um bilhão de vezes mais. Lamento muito por aqueles que precisam de condições normais. Morro de raiva quando alguém diz que precisa de condições especiais. Não é nada disso, precisam apenas que os espaços sejam planejados da forma mais óbvia possível.

Aí dizem que o problema é a falta de respeito do motorista. Vamos parar de ser hipócrita. Concordo que o motorista tem que entender que o pedestre é frágil e deve ser cuidadoso com ele. Mas vamos concordar que o nosso sistema de trânsito não é preparado para veículos e pedestres conviver em harmonia. Nem as ruas, nem as calçadas e nem os fluxos cooperam com nada. Pedir para o motorista parar ao ver o pedestre? Aí a cidade vai parar de vez!

Quando estamos em países desenvolvidos pensamos: "nossa, respeitam o pedestre aqui". Mas a questão vai mais a fundo. Para começar as calçadas são preparadas para a caminhada. Há espaço para o carro, para o ciclista e para o pedestre. As vias são estruturadas de forma que exista fluxo dos veículos e os semáforos são racionalmente sincronizados. As faixas de segurança são estrategicamente posicionadas. Ou seja, há planejamento para que todos, definitivamente todos, possam se deslocar de forma segura e confortável e, aí, a harmonia naturalmente acontece. No Brasil, pelo menos em São Paulo, é uma disputa de espaço. Não há preparo para que as coisas aconteçam de forma que possa haver a convivência entre todos.  Nem motoristas e nem pedestres tem culpa. A questão é, mais uma vez, a falta de querer e de planejamento em infra-estrutura.


Desculpa o desabafo, mas às vezes precisamos escrever o que pensamos! Enquanto nada muda, espero a prudência e paciência de todos e, desejo boa sorte ao povo paulistano!

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