sexta-feira, 15 de novembro de 2013

- Procura do emprego (a vez DELA) - parte 1




Um dia o desafio de procurar emprego chegaria para o lado feminino do "primaucanada". E antes mesmo que eu piscasse os olhos este momento chegou. Passei por bastante coisa até agora e resolvi compartilhar mais esta minha experiência aqui no blog. Primeiro para ajudar os leitores com mais informações a respeito deste tema, nem que seja apenas por curiosidade. Segundo, porque espero no futuro usar este espaço como um diário e poder ler e relembrar os momentos da nossa vida nestes passos da imigração.


Sei que todos querem que eu vá direto ao assunto, mas se eu fizesse isso, este post não estaria sendo escrito por mim. Adoro uma enrolação... Mas juro que vale a leitura. Falarei de bastante coisa interessante, mas antes farei umas reflexões a respeito do que tenho sentido e do que tenho sido orientada como imigrante e que tem feito toda a diferença. Então vamos lá...

Se tem uma coisa que tenho aprendido como imigrante, e a cada dia que passa este aprendizado se reforça, é que a melhor coisa que se pode fazer é reconhecer que é preciso recomeçar. E mais do que isso, ter humildade e estar disposto a voltar muitos passos para trás, não apenas na carreira, mas na maneira de enxergar o mundo e de se comportar. Tenho aprendido isso de livre, espancada e orientada vontade!

Entre muitos desafios que o imigrante tem que passar, acho que os assuntos relacionados ao trabalho são os mais difíceis de enfrentar, pois engloba muita coisa junta. Não é apenas a procura de emprego que intriga, mas a experiência como todo, e isso inclui a busca por vaga, currículo, compreensão do mercado, análise pessoal, adaptação ao costumes locais, comportamento no emprego, etc, etc, etc. Tudo é novo. De repente você se vê debaixo de uma tempestade de informações e dúvidas e se se dá conta de que não sabe nada, nem mesmo as coisas banais e simples do dia a dia que antes eram automáticas. Por exemplo, qual a melhor maneira de se direcionar às pessoas, pelo primeiro nome ou sobrenome? Olhar nos olhos ou não? Ser formal ou informal? Etc, etc, e muitos etc... Mas calma, antes que você brasileiro queira desistir de qualquer coisa, temos a sorte da nossa cultura ser muuuuuuuito parecida com à canadense. Eu diria que até mais próxima à canadense do que à famosa americana. Agora para os asiáticos, nossa, estes sofrem!

É verdade que existem muitas dificuldades, mas por outro lado, há muito apoio em volta e isso inclui apoio do governo canadense. O estrangeiro que está aqui na condição de residente permanente tem direito a participar de muitos, muitos e muitos programas gratuitos que dão suporte a adaptação à nova cultura. E isso é demais!!! Não faltam opções. Não querer se adaptar é pura má vontade, porque o que não falta é ajuda para isso. O Canadá é um país muito bem estruturado e o imigrante pode usufruir disso. Mas claro que nós temos que fazer a nossa parte, e isso significa se encaixar ao local.

Semana passada participei de um workshop sobre mercado de trabalho no qual o palestrante era um mexicano, ou seja, também imigrante. Ele falou umas coisas que eu achei bem legal e tentarei repassar aqui nas minhas palavras pois acho que vale a reflexão. Segundo ele, todos os anos muitos imigrantes chegam no Canadá e muitos vão embora. Uns dão certo e outros não. Por quê? Bom, certamente o problema não está no país, afinal, o Canadá é o mesmo para todos. A questão é o quanto as pessoas estão dispostas a mudar e a se adaptar. Se você acha que o canadense vai abrir os braços e te aceitar do jeito que você é, pode desistir e voltar para o seu país. As pessoas não podem esquecer que quem tem que abrir os braços são os imigrantes. Quem tem que mudar, são os imigrantes. Quem tem que aprender, são os imigrantes. As pessoas acham que o fato do país ser multicultural significa que todos tem que aceitar as diferenças de todas as culturas. Isso é uma imensa bobagem nas palavras dele: bullshit!!!. Ser multicultural significa dar chance ao estrangeiro e não discriminá-lo por sua origem, e só.  É o imigrante quem tem que aceitar as regras do local, o modo de vida canadense e respeitar isso tudo. Tem que entender como as coisas já funcionam e saber se comportar da mesma maneira. De acordo com o apresentador do workshop, ser imigrante significa antes de mais nada, mudança de comportamento. Quem não muda vai embora. Neste dia o palestrante foi bem direto com todos, uns 50 imigrantes. Lembro-me que ele disse para cada um voltar para casa e antes de dormir pensar se quer mudar o comportamento. Se a pessoa não estivesse disposta, que deveria voltar para o país imediatamente, pois estaria apenas desperdiçando tempo e dinheiro de todos, inclusive o próprio. Que a pessoa deveria dar espaço para quem realmente quer estar no Canadá e viver como canadense. Resumindo, para estar no Canadá tem que ser igual ao canadense, ponto final.

E por mais óbvio que isso possa parecer, acredite, todos os dias vejo imigrantes fazendo bobagem por aí. Espero que euzinha não esteja cometendo nenhuma calamidade, mas pelo menos me esforço para isso. Vou dar uns exemplos.

Na minha sala tem um chinês que outro dia veio me perguntar quantas vezes eu havia feito o teste prático de direção. Eu respondi que apenas uma e ele impressionado me disse que havia conseguido apenas na quarta tentativa. Mas não foi isso o que me chocou, e sim o que ele falou em seguida: "(...) mas também não importa quantas vezes eu tenha feito o teste, agora que já tenho a minha licença posso dirigir do jeito que eu quiser" (?????). Gente, numa boa, dá para entender este comportamento medíocre?

Outro exemplo, no outono pode haver presença de ursos em áreas da cidade pois é a época em que estão procurando alimento antes de entrarem no período de hibernação. Mas para evitar a presença destes animais na parte urbana, existem rigorosas regras de lixo na cidade, e isso significa como armazená-lo, como e que horas colocá-lo na rua para o caminhão retirar, etc. Assim, toda a comunidade junta pode evitar a presença dos ursos vira-latas nas redondezas. Massssssssss no meu condomínio começamos a ter problemas com a visita destes animais, e por quê? Porque alguns imigrantes resolveram não seguir as regras e fazer do jeito que bem entendem. Muitos deles deixam lixo na rua e espalhado pelo chão. Uma porquisse! Eles tomam multas direto, mas como são ricos, não se importam em pagar. Ou seja, nem se preocupam com o conceito de comunidade!

Bom, como estes, eu poderia ficar aqui citando um milhão de comportamentos loucos de estrangeiros. O que eu acho estranho é que as pessoas vem para cá porque acreditam que aqui é melhor. Então porque repetir o que fazia no seu antigo país ao invés de manter o que tem de bom aqui? Numa boa, não estou falando para abandonar as raízes e blá, blá, blá, estou me refererindo a parte prática do negócio. Temos que admitir que se aqui as coisas funcionam, é porque está sendo feito da maneira correta. Por que atrapalhar???? E olha que só dei exemplos bobos de coisas básicas do dia a dia.

Nossa, os fiscais e a polícia sofrem tentando manter a ordem!

Último exemplo vai..... Na minha sala de aula tem uma iraniana que fala claramente que acha que não tem que mudar o jeito de ser e que os canadenses é que devem se acostumar com ela. (?????) Aí depois a pessoa não entende porque não consegue emprego, porque não é bem tratada pelo canadense, porque as pessoas não conversam com ela... Bom, são estes os casos que são encontrados por aí....


E como isso tudo está relacionado à procura de emprego Priscila???? 


Então, voltando ao que o palestrante falou, faz total sentido a questão de mudança de comportamento. Nas questões profissionais, isso é muito mais gritante. Porque querendo ou não, em termos de comunidade o canadense até respeita as diferenças das culturas, sobretudo porque isso faz parte da educação do país. Ou seja, aceitar os vizinhos, pessoas no ônibus, no mercado, etc.... Mas no trabalho, as empresas podem tranquilamente filtrar e escolher quem realmente querem no quadro de profissionais certo? E nem tem como confundir isso com discriminação, pois é uma questão de estar preparado (ou não) profissionalmente para oferecer o que a empresa precisa. Então, quem não se esforça para entender a cultura do país, assim como o sistema canadense, certamente gastará muita sola de sapato procurando emprego mas não passará da entrevista. Uma das coisas que foi mencionada é que o canadense é um povo alegre e otimista e que por isso, não gosta de gente mal humorada. Sendo assim, se durante uma entrevista a pessoa reclamar de qualquer coisa, que seja apenas da chuva, é descartada na hora... Dica simples não? Talvez para nós brasileiros seja mas para os iranianos, chineses, coreanos que carregam uma nuvem negra sobre as cabeças, isso é um choque. De qualquer maneira, cada detalhe pode fazer a diferença. Então o melhor, é ouvir, ouvir e ouvir quantas vezes forem necessárias como as coisas realmente funcionam por aqui.

Então o meu conselho repassando o que eu ouvi neste workshop, a primeira coisa a fazer é se encaixar no país mudando o comportamento. Nas palavras do palestrante: "You must change your behaviour to fit. If you are not able to do that, forget any chance of survival here" (você deve mudar o seu comportamento para se adequar. Se você não for capaz de fazer isso, esqueça qualquer chance de sobrevivência aqui)

E para concluir, ainda de acordo com o mexicano "Be immigrant is like play with Lego, each piece you assemble and connect, you fit more and more in canadian culture and thus you grow more and more" (Ser imigrante é como brincar com Lego, cada peça que você montar e conectar, você se encaixa mais na cultura canadense e, assim, você cresce mais e mais)

Bom, prometo ser mais direta ao assunto no próximo post :)

4 comentários:

  1. Oi, Pri! Nossa, eu não poderia concordar mais... Assino embaixo de tudo o que você escreveu, é assim mesmo. Por mais que eu ainda não esteja na fase de procurar emprego, eu já estou na faculdade, estudando e lidando com pessoas que já trabalham. É mais ou menos por aí mesmo...
    Estou aguardando o final da sua história!
    Beijos,
    Lidia.

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    1. Olá Lidia. Você já pensar assim te ajudará muuuuuuito no momento de procurar por um trabalho. E querendo ou não, estudar já é uma enorme experiência de adaptação cultural, sobretudo no seu caso que já estuda com os canadenses. Logo escreverei mais sobre isso! Bjs e obrigada pelo comentário Pri

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  2. e isso vale para o lado francofono tb, mesmo com todos os *accommodement raisonnables* e *charte des valeurs* no pedaço ....

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    1. Nossa, o Canadá é enorme, mas querendo ou não esta adaptação vale para todos os cantos deste país :)

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