terça-feira, 22 de abril de 2014

- UM ANO que deixei o BRASIL



Depois do processo Skilled Worker mais o tempo de enrolação no Brasil, finalmente havia chegado a hora de imigrar para o Canadá. Maridão veio definitivamente em dezembro de 2012. A minha vez foi em abril de 2013, HÁ EXTATO UM ANO ATRÁS quando eu estava iniciando mais um caminho na minha vida, com novos horizontes.

Lembro-me claramente dos últimos dias no Brasil. O meu medo era muito grande, e junto a isso eu tinha uma sensação de perda. Conforme os dias iam passando e a minha data de embarque se aproximava, parecia que eu estava deixando muita coisa para trás. Tudo aquilo que construí às custas de muita batalha, força, suor, esforço e crença. E não me refiro apenas aos bens materiais. Digo também, e principalmente, das relações construídas com pessoas. Aos poucos eu ia me despedindo dos conhecidos. Alguns nem se davam conta disso, pois muita gente não sabia do meu plano de imigração, sobretudo os de relação profissional. Claro que as pessoas mais próximas estavam a par de tudo e o contato se manteria. Mas ainda assim, eu não sabia como isso tudo seria.

É como se eu estivesse deixando tudo para trás. Eu sentia uma enorme angústia e parecia que até mesmo as coisas mais abstratas e subjetivas também estavam ficando ali, naquele país que me suportou até então. Parecia que eu estava empacotando no meio de tantas caixas todo o conhecimento e experiência que havia adquirido ao longo dos meus 32 anos. Claro que isso não seria descartado, mas certamente ficaria guardado por um tempo, pois grande parte das experiências passadas até este momento eram consequências do que vivi no meu país nativo, e portanto, usadas lá de acordo com o meu dia a dia e minhas necessidades. Agora eu teria que adaptar todo o meu conhecimento e ainda acrescentar muitas novas informações. Eu sabia que teria novos aprendizados, mas o novo assustava muito, aliás, ainda assusta muito.

Fui encerrando os contratos, embalando minhas coisas, finalizando a minha conexão com o Brasil. A cada dia uma tarefa feita, o que significava, uma ligação a menos com o meu país. De repente, aquilo que eu tanto quis e sonhei foi ficando mais próximo. E o medo e a sensação de vazio crescendo. É muito estranho tudo isso, porque é algo que não dá para ficar em cima do muro. Ou vai ou fica. Não tem meio termo. E eu sabia disso, principalmente porque sou o tipo de pessoa que vive nos extremos. Comigo as coisas são no "tudo ou nada", "8 ou 80", "preto ou branco". Sou assim mesmo, radical. Eu gosto das coisas definidas e as odeio pela metade. Pela primeira vez na vida eu quis entrar no "cinza". Eu queria ir e ficar ao mesmo tempo. Eu queria muito o novo, mas queria o velho também. Queria sair da zona de conforto, mas queria tanto ficar nela...

Eu tinha a sensação de que estava deixando a mim mesma para trás, como pessoa. Parecia uma perda de identidade. No nosso caso, não conhecíamos ninguém no Canadá e estávamos indo apenas nós, sem ninguém mais, sem nada, na cara e na coragem, sem lenço nem documento.

Juro que a coragem quase foi embora. Mas aí eu me apeguei a todo fio de esperança possível, respirei fundo e me dei conta de que tudo isso era apenas mais uma tentativa na minha vida. Sem nenhuma obrigação de dar certo e com possibilidade de retorno. 

O engraçado é que quando planejamos mudar de país, ficamos tão focados no que ganharíamos com isso, que não paramos para pensar nas perdas. Claro que tínhamos ciência de que faríamos renúncias, mas não paramos para contá-las. O imigrante sofre muito, sofre pelo que deixa para trás e sofre pelo que passa na frente.

Há um tempo atrás, uma antiga chefe me disse uma vez que "não se pode ter tudo nesta vida". E quer saber? Ela estava certo. E isso é algo que considero muito injusto, pois sempre temos que fazer escolhas, o que necessariamente implica em abrir mão de alguma coisa. E o pior é que grandes decisões significam grandes renúncias. E juro, pensar no afastamento físico da minha família é algo que me corroía por dentro. Que dor difícil de lidar, sobretudo no meu caso que sempre fui muito ligada aos meus pais. Com certeza, o momento mais difícil que já passei.

Enfim, no dia 22 de abril de 2013 deixei o Brasil. Com muita tristeza e muita esperança ao mesmo tempo.

2 comentários:

  1. Parabéns pela coragem de correr o risco, Pri, isso é pra poucos. Eu vou completar dois anos em junho que deixei tudo para trás, apesar das dificuldades de adaptaçao no começo, de ter que começar tudo do zero, ainda acho que foi a decisao mais certeira que tomei na vida, nao me arrependo. Boa sorte para vcs. bj

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    1. Olá Ana, obrigada pela visita aqui no blog!
      Só quem passa por isso sabe o quanto é difícil né?!
      Ainda estamos na fase do "perrengue" e espero que isso passe logo (kkkkkkkk). Mas como você, acredito que foi a escolha certa! Boa sorte para você também!!!!
      Um grande abraço
      Pri

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