domingo, 26 de abril de 2015

- Saúde no Canadá (3): nosso caso


Depois de falar sobre o sistema de saúde aqui no Canadá, não há melhor momento para contar a história do Mauricio e todo o processo que ele passou (e tem passado) para se recuperar de uma lesão no joelho praticando esporte. Então senta que lá vem história...

*** Como tudo começou ***

No dia 22 de fevereiro 2014, o maridão machucou o joelho enquanto andava de snowboarding. Já era noite e foi na última descida, a famosa saideira que eu costumo chamar de “descida da teimosia”. Qualquer pessoa que pratica snowboarding/skiing sabe que o corpo tem um limite de tempo para o esporte. Não tem jeito, você pode se preparar para a estação de inverno, fazer exercícios aos montes, ser um super atleta, e mesmo assim o corpo se esgota em algumas horas. Snowboarding e skiing são atividades que exigem muito fisicamente e chega um determinado momento que o corpo simplesmente não responde mais, e é quando a pessoa começa a cair de bobo, por nada, sem motivo algum. E isso é um sinal de que é hora de parar.

E foi mais ou menos assim com o Mauricio. Depois de horas descendo e pulando rampas, ele percebeu que já estava cansado e decidiu que deveríamos ir para casa. Mas claro, ele ainda quis a tal da saideira. Pronto! Acidente na certa! Foi resgatado pela equipe de snowmobile e tudo mais. Ainda na estação ele recebeu um atendimento “expresso”. Aparentemente não havia sido nada sério, apenas tinha machucado a perna. Ele conseguia andar um pouco, mas com bastante restrição. Como já era tarde da noite, optamos em voltar para casa e no dia seguinte avaliar se ele deveria ou não ir ao médico.

No dia que se seguiu (domingo), ele estava com dificuldade para andar e sua perna estava bastante inchada, por isso resolvemos ir ao hospital para que ele pudesse receber uma assistência mais adequada. Depois de longas 4 horas aguardando, desistimos do atendimento. Durante este período de espera, vimos que uma menina havia passado pela mesma experiência que o marido e que o médico do hospital não fez nada demais, apenas a encaminhou para um ortopedista. Vendo isso (mais a falta de perspectiva de um atendimento nas próximas horas) decidimos ir para casa e marcar consulta com a médica de família. Considerando que o procedimento seria apenas ter um encaminhamento para um especialista, era desnecessário passar o dia todo sentado esperando um sinal de qualquer médico. Não adianta, por mais dor e incômodo que ele estivesse sentindo, não era nenhum caso de alto risco. Portanto, chá de cadeira!!!

Um semana depois, a perna dele continuava muito inchada e a dificuldade de andar ainda era grande. Mas ao invés do Mauricio agendar a consulta com a nossa Family Doctor, ele decidiu ir a outro hospital. Na ocasião, um médico bem atencioso o recebeu e fez alguns exames, incluindo Raio-x, e já pré-diagnosticou rompimento dos ligamentos. Imediatamente o indicou para um ortopedista especializado em medicina esportista. Seguindo o padrão canadense, a consulta com o tal ortopedista só deveria acontecer depois de uns 6 meses, mas por muita sorte, o médico do hospital acabou fazendo uma carta de referência pedindo urgência no caso - o que ajudou muito. Quando o marido foi marcar a consulta com o especialista indicado, a recepcionista seguiu a previsão e explicou que só haveria disponibilidade para meses à frente. Mas assim que o Mauricio mencionou a carta do médico do hospital com a solicitação de tratamento com urgência, a história mudou. Na semana seguinte o marido já estava na sala do ortopedista avaliando o caso.

No dia da consulta com o ortopedista, o médico já estava com os resultados dos exames previamente realizados no hospital. Ele deu uma olhada no caso do Mauricio, confirmou o rompimento dos ligamentos e receitou primeiramente antiflamatório, repouso e muito gelo na área machucada para recuperar a perna e os movimentos naturais. Segundo o médico, o Mauricio poderia viver tranquilamente com os ligamentos rompidos pois a perna voltaria ao normal para as atividades simples do dia a dia.

Quanto à prática dos esportes, aí sim poderia haver alguma complicação. Ele explicou que os ligamentos não se recuperam sozinhos quando rompidos completamente, muito pelo contrário, apenas através de cirurgia eles poderiam ser “reconstruídos”. E apesar disso ser assustador, nem todo mundo precisa da operação, pois de acordo com o médico, há três cenários possíveis para casos assim. O ortopedista expôs que 1/3 das pessoas conseguem viver bem sem passar por cirurgia e voltam a fazer os exercícios normalmente após a fase de recuperação da lesão propriamente dita (geralmente gente jovem). Outro 1/3 consegue voltar a fazer alguns exercícios sem fazer a reconstrução dos ligamentos, no entanto, com restrições. O 1/3 restante só volta a fazer exercícios se passar pela operação.

O ortopedista chegou a comentar que uma ressonância magnética demonstraria o problema do joelho com muito mais precisão. Mas infelizmente levariam meses até que o Mauricio conseguisse realiza-la uma vez que há uma longa fila de pacientes aguardando o mesmo exame. Pela matemática do médico, ele conseguiria fazer a cirurgia antes mesmo do agendamento da ressonância. Por isso, ele dispensou o exame e manteve o diagnóstico apenas se baseando nos sintomas e resultados dos raios-x, sugerindo a operação. Nós achamos aquilo tudo muito esquisito, afinal, como submeter um paciente à cirurgia sem ter certeza do que realmente aconteceu? Mas mesmo assim, decidimos confiar no médico pois era um profissional muito bem reconhecido, inclusive responsável pela equipe da seleção de ski do Canadá.

O médico deixou o Mauricio bem a vontade para escolher se passaria por cirurgia ou não, e que se ele quisesse poderia fazê-la após uns 4 meses a partir daquela data. Mas havia um ponto negativo em passar pelo procedimento no momento. A recuperação pós-operatório seria bem sacrificante e exigiria muita dedicação, fisioterapia e tempo. Era estimado uns 12 meses para ter o joelho recuperado após a cirurgia. Pensando nisso, o marido optou em não operar na ocasião pois certamente ele perderia a próxima temporada de inverno. Como o médico disse que havia chance dele voltar a praticar snowboarding sem operar o joelho, o Mauricio resolveu arriscar. O profissional prescreveu um suporte para o joelho, chamado de “brace”, que ajudaria a sustentar a articulação durante a prática de qualquer esporte.

E assim, ficou resolvido que o marido aguardaria a perna desinchar e se recuperar da lesão nas semanas subsequentes adotando as orientações médicas. Depois, voltaria a praticar os esportes rotineiros aos poucos durante o ano de 2014 e faria exercícios para o fortalecimento da região machucada. Na temporada de inverno, ele tentaria praticar snowboarding e, se possível evitar a cirurgia. Caso contrário, ele seria operado logo em janeiro (2015) e teria todo o ano para se dedicar à recuperação.


*** PLANO ***

Enfim, o Mauricio foi bem disciplinado na recuperação da lesão inicial seguindo as orientações médicas. Aguardou a fase do desinchaço, trabalhou bastante na academia para fortalecer a perna e adquiriu o suporte para o joelho recomendado pelo médico. Aliás, o marido também se empenhou em ler tudo o que fosse possível a respeito. E sabe como é né, uma coisa leva a outra. Todos os tipos de produtos que ele via que pudesse ajudar, ele comprava. Em poucos meses nossa casa virou um centro de acessórios para joelho. Havia milhares de faixas e suportes em todos os cantos. Como se isso não bastasse, o marido também comprou uns aparelhos complementares para ajudar na recuperação. Laser, acupuntura eletrônica, ultrassom portátil, balde de gelo especial, entre outras coisas. De tudo isso que ele adquiriu, o médico em si só havia recomendado um único suporte, que foi uma peça que custou somente CAD$ 1,300.00.

No meio de tantos investimentos, não tivemos absolutamente nenhuma ajuda do plano de saúde público. Até este momento, a única coisa que foi coberta pelo sistema do governo foram os médicos (hospital e ortopedista) e os exames de raio-x, e só.

Para a nossa sorte, temos um ótimo plano de saúde particular que faz parte do pacote de benefícios que o marido recebe da empresa que trabalha. Neste caso, nós não pagamos nada pelo plano. É a empresa que o oferece ao funcionário, sem nenhum desconto em folha de pagamento. Sorte mesmo, porque eu não tenho nenhum beneficio no meu emprego. Mas tudo bem, porque a cobertura deste plano também se estende a mim. Aí, no caso do joelho, este santo plano particular milagroso nos reembolsou 100% do valor do suporte prescrito pelo médico, ou seja, os CAD$ 1,300.00. O que foi ótimo!!! Os outros itens foram pagos por nós mesmos pois foram comprados por conta própria, sem prescrição ou indicação de profissional.

No fim das contas, com muito empenho o Mauricio voltou a praticar alguns esportes, incluindo andar de bicicleta e a correr!!! Otimismo total neste período. Correr, em teoria seria um dos exercícios que talvez ele não conseguisse voltar a praticar por causa da exigência das articulações e nível de impacto no joelho. Estávamos felizes e confiantes para a temporada de neve!!!

Enfim, chegou o esperado inverno. No final de dezembro durante o período de festas, fomos à estação de esqui para testar o desempenho do joelho do marido na prática do snowboarding. Esta seria a hora da verdade. É tudo ou nada. Expectativa alta neste momento!!! E.... tã tã tã tã tã tã (rufos dos tambores)... marido não conseguiu.... decepção total!! Para ser bem honesta e clara, ele não conseguia nem ficar em pé sobre o snowboard. O que deveria ser super simples virou complicadíssimo. O joelho dele não se mantinha estável e se deslocava simplesmente por tentar ficar em posição estática em pé sobre a prancha. Fazer movimentos então, fora de cogitação. Tadinho! A maior dó do mundo... Eu não tinha palavras para consolá-lo. Voltamos para casa. Ele só ficava repetindo para si próprio “porque já não operei esta p#$@* de joelho, porque já não operei esta p#$@* de joelho...”

Claro que para algumas pessoas isso pode parecer exagero, mas esporte é algo que faz parte da vida do Mauricio, sobretudo os “outdoor”. Snowboarding é uma paixão para ele, e pensar em ficar sem isso é algo que faz muuuuita diferença na vida dele. Enfim, agora era hora de correr atrás do prejuízo.


*** A CIRURGIA ***

Já na primeira semana de janeiro estávamos tentando agendar a cirurgia. Depois de alguns dias tentando uma data, o Mauricio conseguiu programá-la para o dia 26 de janeiro de 2015. Após esta confirmação, ele teve uma consulta com o médico que em 5 minutos explicou mais ou menos como o procedimento aconteceria. Considerando a falta de ressonância magnética e de um diagnóstico exato, o profissional esclareceu quais seriam os possíveis cenários para o problema. Explicou que a cirurgia poderia ser bem simples e rápida apenas através de Artroscopia. No entanto, dependendo das condições em que os ligamentos se encontravam, ele poderia fazer algo mais invasivo como complemento à artroscopia na tentativa de um resultado mais consistente. A ideia do médico era definir na hora do procedimento qual das alternativas seria melhor para o caso. Levando em conta as opções disponíveis, o Mauricio deixou uma autorização com o ortopedista permitindo que ele fizesse o que julgasse necessário, algo mais ou menos “faz o que tiver que fazer para que eu volte a praticar snowboarding”. Saímos de lá com um papel que tinha as orientações pré-cirurgia, mas nada demais. As instruções eram basicamente o horário que ele deveria chegar em determinado hospital, solicitação de um par de muletas e um balde de gelo específico para joelho (que por sorte, o marido já havia comprado anteriormente). Eu em particular estava assustada porque não foram pedidos exames prévios como geralmente acontece no Brasil, tipo eletrocardiogramas ou exames de sangue. Sei lá, eu não conheço nada de coisas relacionadas à saúde, mas pelo que eu sempre vi, no Brasil era comum os médicos pedirem alguns exames de checkup antes de operações para terem conhecimento do estado de saúde real do paciente. Além disso, pediam que um adulto responsável fosse pegá-lo no final do dia no hospital (???????). Como assim pegá-lo????? Eu ficaria lá durante todo o período do procedimento!! Em hipótese alguma eu o deixaria lá pela manhã e voltaria para pegá-lo no final do dia como se fosse criança indo para escola. Que coisa de louco! Pelo menos para mim que sempre tive cuidados da família em qualquer situação relacionada à saúde. Na minha família, é costume que alguém (ou alguéns) fique lá no hospital antes, durante e depois de qualquer operação.

Enfim, chegou o dia da cirurgia. Estávamos lá nós dois na recepção em plena madrugada (6am) preenchendo alguns papeis. Marido entrou para fazer alguns poucos exames rápidos e ser preparado para o início do procedimento agendado para às 8:00h. Eu mesma fiquei com ele só uns 10 minutos em uma sala tipo enfermaria onde vários outros pacientes também estavam aguardando para serem chamados. Quando o marido entrou para a sala de operação, uma enfermeira veio até mim e disse que me ligariam na hora que ele estivesse pronto para eu pegá-lo. Eu respondi que não iria a lugar nenhum e ficaria lá aguardando me darem notícias. A estimativa era que tudo acabasse em 1 hora e me chamassem em 2. Mas nada disso aconteceu. Eu só tive contato com ele às 3pm. Fiquei lá aguardando alguém falar comigo. Ninguém me dava resposta para nada. Eu não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. Eu perguntava por ele e a única coisa que me diziam é que eu deveria aguardar alguém me ligar no celular. Um horror! Eu ficava mais ansiosa a cada dez minutos. E para piorar tudo, faziam apenas 4 dias que tínhamos perdido a nossa cachorrinha Jesse. Era tudo junto sabe? Uma mistura de emoção sem tamanho. Eu chorava de vez em quando e ninguém entendia nada, porque afinal, não era uma cirurgia de risco. Só fui me acalmar quando uma senhora canadense sentou para conversar comigo e aí desabafei sobre o que havia acontecido recentemente conosco e que isso se somava a toda a ansiedade da cirurgia, mais o processo de imigração, ausência da família, enfim, tudo junto e misturado.

Finalmente uma enfermeira me chamou para ver o marido. Ai que dó! Vê-lo ali mega dopado me partiu o coração. Após a operação ele foi para uma área de recuperação esperar passar o efeito da anestesia. Assim que acordou (pelo menos um pouco), ele foi levado para uma outra sala onde outras pessoas também estavam sob observação. Algo tipo enfermaria, onde as camas ficam separadas apenas por cortinas e uma equipe de enfermeiras fica acompanhando a evolução dos pacientes. Este espaço são para os casos que não ficarão internados, e que diga-se de passagem, aqui é o mais comum. Internação só em casos extremos, afinal, manter um paciente no hospital é algo caro para o sistema público.

O médico veio falar comigo rapidamente e explicou que a cirurgia havia sido muito mais complexa do que ele esperava, o que ocasionou a demora do procedimento. Disse que a recuperação seria bem chata, sobretudo no começo, e que precisariamos de bastante paciência. Ainda falou que com a complexidade do caso, ele teve que optar pela operação mais completa, conforme já havia explicado anteriormente para nós. Sendo assim, além da artroscopia, o procedimento também envolveu um corte na lateral do joelho bem grande com muitos pontos, mas que isso foi necessário para poder trazer um resultado mais eficiente. No caso do Mauricio, vários ligamentos estavam rompidos completamente, incluindo o menisco e o ACL, e isso fez com que ele escolhesse o método mais invasivo a fim de garantir uma recuperação melhor e evitar que ficassem frágil com o passar do tempo. Conceitualmente, e falando de forma bem grosseira, o médico quis reforçar o joelho e acabou fazendo algumas coisinhas a mais além do convencional uma vez que o objetivo do Mauricio era (e ainda é) voltar a praticar snowboarding. Isso é o que ele diz. Mas admito que quando eu vi a perna do marido eu fiquei horrorizada!!! Não entendo absolutamente nada de cirurgia, mas ver um corte cheio de pontos feitos com grampo metálico (tipo grampeador) me impressionou. Achei aquilo tudo muito medieval.

Eu fiquei lá com o suposto doente por mais umas horas até que fosse liberado. Ele demorou um pouco para se recuperar pois devido ao grau da operação, ele precisou de doses extras de morfina, o que o fez ficar completamente alienado. Aí uma enfermeira veio me passar todas as instruções de como eu deveria lidar com o Mauricio nos próximos dias até que ele voltasse a ver o médico novamente, já agendado. A hora de ir embora foi um pouco complicada pois ele nõ conseguia andar direito, e não sei o porquê, a “maledeta” da enfermeira disse que ele deveria evitar as muletas e tentar andar sozinho o quanto fosse possível. Juro, até hoje não sei de onde ela tirou esta ideia porque segundo o médico, o Mauricio deveria ter evitado ao máximo qualquer esforço na primeira semana. Esta “besta quadrada” obrigou o marido andar um pouco pelo hospital e enfatizou esta instrução quando estávamos saindo. Eu insisti que ela estava errada pois não era o que o médico havia me orientado. Mas ela me tratava com aquele ar de “você deve estar se confundindo, talvez por causa do idioma, blá, blá, blá”. Odeio quando as pessoas assumem que não entendo as coisas por causa do inglês, poxa, já passei da fase do “analfabeto” para “semi-analfabeto” (rsssssss). Well, depois o médico disse que a louca estava louca mesmo e eu estava certo. Tarde demais, marido já havia dispensado a muleta, mas por sorte, nada que o tivesse prejudicado. Bom, após sair do hospital, deixei o Mau em casa bem acomodado e fui em seguida à farmácia comprar os remédios passados pelo doutor. Agora, era hora de começar a fase de recuperação.

E a conta do hospital???? Zero. A cirurgia em si (equipe médica e instalações) foi toda coberta pelo plano de saúde público. O Mauricio só teve que dar a carteirinha na recepção quando chegou no hospital. Em compensação, todo o resto nós é que bancamos.

Aí, vale ressaltar que não há nenhum envolvimento e/ou ajuda do plano de saúde público relacionada à compra de medicamentos, muletas, ou qualquer outra coisa que seja necessária, ao menos não neste caso. Tivemos que bancar tudo, e não foi pouco. No nosso caso, o plano de saúde privado que o Mau tem pela empresa foi o que aliviou a conta pois, com ele, tivemos descontos na compra dos medicamentos prescritos. Deixei na farmácia CAD$ 80.00, incluindo os tais descontos que foram de 80% em média. Então, faz a conta aí para saber o quanto eu pagaria se não fosse o plano particular. Além disso, o médico receitou o uso continuo de gelo na área do joelho para ajudar no processo desinflamatório. Para isso, tivemos que adquirir um outro equipamento especial que mantém a área sob contato com gelo o tempo todo, e mais uns dolares gastos...


*** A RECUPERAÇÃO ***

A primeira semana após a cirurgia foi de muito repouso. Levantar e/ou andar só para ir ao banheiro. O Mau sentiu bastante dor e desconforto. Tomou remédios fortíssimos que o deixavam meio dopado. Aos poucos as doses foram diminuindo. Neste período chegaram a ligar do hospital para perguntar se ele teve alguma reação em relação a anestesia ou whatever. Em dez dias o médico o estava recebendo no consultório para ver como ele estava. Os pontos metálicos e os curativos foram retirados. Na segunda semana o Mau já estava de volta ao trabalho. Por 6 semanas seguidas à cirurgia ele ficou proibido de dirigir e eu fiquei de motorista. Vida de esposa né!

Nestes primeiros 30 dias todos os movimentos da perna operada estavam bem restritos. Aos poucos ele foi voltando a andar, mas quase sem dobrar a articulação. Ainda antes de completar o primeiro mês, ele começou as sessões de fisioterapia. Aí a conta bancária começou a doer também, porque nada, absolutamente nada de fisioterapia tem cobertura pelo plano de saúde público. Tudo pago por nós. O valor era de CAD$ 85.00/sessão que durava 20 minutos. O plano particular reembolsou parcialmente o valor até atingirmos o teto de CAD$ 500,00. Depois disso, tivemos que pagar centavo por centavo. Lembro que no começo o Mauricio reclamava muito. Cada vez que ele tinha que pagar a conta ele ficava com o maior mau humor. Também não é para menos. Pagar tudo isso por apenas 20 minutos e ainda não sentir evolução, é para desanimar qualquer um. O médico bem que avisou. A dificuldade da recuperação está mais relacionada a lidar com o emocional do que com a dor propriamente dita pois ver alguma resposta do joelho é algo demorado. Ele foi enfático quando disse que seriam 12 meses para se recuperar completamente e que os 6 primeiros seriam extremamente devagar. A frequência das sessões era incialmente de três vezes por semana, depois foi para duas, depois uma até que o próprio Mauricio desistiu.

Calma, calma, calma. Ele não desistiu de trabalhar na recuperação do joelho, e sim da fisioterapeuta. Desde que ele passou pela cirurgia, não houve um dia que ele tivesse deixado o joelho de lado sem nenhum tipo de exercício. O marido resolveu que procuraria por outro profissional para orientá-lo. Neste meio tempo, ele já havia começado a fazer exercícios na piscina. Não era natação nem hidroginástica, apenas “correr” dentro da água para fortalecer a perna sem impacto. Esta parte da piscina o Mau faz em um estabelecimento público que tem aqui em Coquitlam. O valor é em média CAD$ 55.00/mês para frequentar o local. Além disso, ele também está liberado para andar de bicicleta.

Hoje fazem exatos 3 meses que se passaram da cirurgia e o Mauricio ainda tem um longo caminho pela frente. É esperado que ele possa voltar a correr, e com restrição, somente em agosto. Até lá, será só trabalho de fortalecimento. Eu em particular acho que ele está indo rápido. Ele mesmo acha que tudo está extremamente lento. O médico, acha que está tudo indo bem. Aliás, as consultas com o especialista para acompanhamento da evolução do joelho tem acontecido a cada 6 semanas.

Para resumir como foi a história em relação ao plano de saúde, vale lembrar que o médico especialista, o médico do hospital, exames e a cirurgia foram cobertos pelo sistema público. Todos os equipamentos, medicamentos e fisioterapia foram pagos por nós e tivemos reembolso parcial do plano de saúde privado. A ressonância magnética nunca foi feita por causa da longa fila de espera. 

6 comentários:

  1. Olá Pri. Ansioso pelo seu proximo post que nao vinha rsss. E quando veio, chegou bem detalhado.
    Senti que foi um alerta misturado a desabafo pela saude canadense nao ter sido tao encantadora quando precisaram.
    Voce acha que a demora na cirurgia, fila da ressonancia, cirurgia com "plus" e recomendações erradas da enfermeira, ocorreram por qual motivo exatamente? Seria por nao serem cidadaos 100% canadenses? Por terem plano que reembolsasse e eles dao prioridade a atender quem nao tem? Ou dão preferencia a plano que repassa mais aos medicos?

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    1. Oi Beto
      O sistema de saúde PÚBLICO aqui no Canadá é bom, mas não é muito prático, muito menos rápido. Mas ainda assim, eu o considero superior ao PÚBLICO do Brasil. A questão é que a forma como funciona é bem diferente à que estamos acostumados aí na terrinha brasileira, sobretudo se comparado aos planos privados. Lembro-me bem da facilidade de acesso aos medicos e aos medicamentos quando vivia aí, mas admito que era tudo por meio de plano particular, por isso, acho injusta a comparação. Eu estava acostumada a ser mimada pelos profissionais e ser atendida em hospitais de primeira linha em São Paulo sempre com imediatismo, então naturalmente tenho olhos críticos para qualquer coisa que seja diferente disso. Quanto ao fato de sermos imigrantes, tenho convicção de que não há nenhum tipo de diferenciação, todos são tratados igualmente. A questão realmente está relacionada ao modo como o sistema funciona aqui. Agora, uma coisa é importante ser dita. A qualificação dos profissionais são, na minha visão, igualmente boa. Temos tudo do bom e do melhor em ambos os países. Eu confiava muito na medicina brasileira, e aqui também. Só não gosto de esperar (rsssss).
      Um abraço
      Priscila

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  2. Oi, que situação hein! Já me machuquei muito também, especialmente os joelhos e sei bem o que é. Nunca operei mas imagino como deve ser. Gostaria de saber a opinião de vocês com respeito a comparação de como foi ai no Canadá e como "poderia ter sido" aqui no Brasil. Acha que todo esse processo de atendimento no hospital, avaliação dos médicos, a operação e recuperação aí foi melhor do que teria sido aqui?

    Abraço e desejo boa recuperação para seu marido!

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    1. Olá Diogo
      Respondendo a sua pergunta, acho que o caso do Mauricio teria sido melhor se tivesse sido feito no Brasil sim. Mas acredito nisso porque teríamos feito tudo por meio de plano particular, o que implicaria no tempo para as coisas acontecerem. Certamente os exames teriam sido feitos imediatamente após o acidente e a cirurgia logo em seguida. Da mesma forma, a fisioterapia seria muito mais acessível. Assim, a recuperação seria mais fácil, e claro, teríamos a família por perto. Em termos de profissionalismo da equipe médica, acho que os dois países oferecem a mesma qualidade. Mas volto a dizer, neste cenário, estou comparando público com privado, o que talvez não seja muito justo ;)
      Um abraço
      Priscila

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  3. Eu moro aqui quase 9 anos e ainda prefiro pegar um avião e ir ouvir uma segunda opinião la na terrinha e eles sempre acertam primeiro. Aqui tem bons medicos mas o acesso eh difícil para não dizer irritante. Pequenas cirurgias tudo bem. Lógico que nem todos tem acesso a uma viagem internacional, mas quem tem, melhor evitar dor de cabeça , espera longas e diagnostico confuso como ja vi acontecer. Outra ,quem tem emprego no Brasil, tem saúde sim. Quem não tem, também. Meu pai tem 2 planos belíssimos de saúde, mas em viagem e numa emergencia fez uma cirurgia pelo SUS e foi muito bem operado no interior do MT. Cirurgia seríssima cerebral, entao..eh so por mao na consciência.

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    1. Olá!
      Eu em particular prefiro o sistema do Brasil, mas admito que minha experiência lá sempre foi por meio do sistema particular. A facilidade de poder procurar um médico especialista por conta própria no Brasil é algo que acho que mais me faz falta aqui. Esta política de que passar pelo family doctor para qualquer coisa me irrita demais, assim como as esperas por exames. As vezes pago particular para não ter que esperar. Em relação aos profissionais, acho que são equivalentes. Já fui atendida por excelentes médicos em ambos os países, assim como também já me decepcionei nos dois lados. Profissionais tem de todos os tipos em todos os cantos do mundo ne. De qualquer maneira, estou tentando me adaptar com o que tenho aqui. Estou tentando jogar com as cartas que tenho na mão! Obrigada pelas dicas!
      Um abraço
      Priscila

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